24
Fev 09
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Fev 09

REINADO EFÉMERO

Quando o crepúsculo desce sobre a terra,
Com os seus dedos vestidos de veludo,
É a morte que desce sobre o dia...
E o dia morre... como morre tudo...
Mas vem a noite, mais fúnebre e negra,
E o crepúsculo morre em agonia...
Viveu tão pouco!... De que lhe serviu
Ter vindo à terra pra matar o dia?...
E a noite reina -- julgando-se eterna... --
No seu trono de estrelas assentada...
Reinado efémero: no vasto horizonte
Aparece a sorrir a madrugada...

Lourdes Borges de Castro
publicado por RAA às 03:11 | comentar | favorito
23
Fev 09
23
Fev 09

À NOITE DE NATAL

Era noite de inverno longa e fria,
Cobria-se de neve o verde prado;
O rio se detinha congelado,
Mudava a folha cor, que ter soía.

Quando nas palhas duma estrebaria,
Entre dois animais brutos lançado,
Sem ter outro lugar no povoado
O Menino Jesus pobre jazia.

-- Meu amor, meu amor, porque quereis
(Dizia Sua Mãe) nesta aspereza
Acrescentar-me as dores que passais?

Aqui nestes meus braços estareis;
Que, se Vos força amor sofrer crueza,
O meu não pode agora sofrer mais.

Frei Agostinho da Cruz
publicado por RAA às 00:41 | comentar | favorito (1)
07
Fev 09
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Fev 09

ALGUMAS PROPOSIÇÕES COM PÁSSAROS E ÁRVORES QUE O POETA REMATA COM UMA REFERÊNCIA AO CORAÇÃO

Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
publicado por RAA às 23:29 | comentar | favorito
04
Fev 09
04
Fev 09

...

Há casas profundas
onde resplandecem linhos desfeitos
passos de mulher
casas cheias de doçura
orações esquecidas
lâmpadas ardendo como conchas
casas com colinas de água por dentro
e contos de fadas
e anjos perplexos na caligrafia dos quartos
há casas atravessadas
por um dom luminoso e feroz
por um júbilo de rosas
e portas por abrir

Pedras Salgadas
21 de Agosto de 1999
Fernando Jorge Fabião
publicado por RAA às 00:01 | comentar | favorito (1)