15
Abr 09
15
Abr 09

SONETO DE AMOR

Tantos passaram pelo teu caminho
Antes que fosse a hora de eu passar
Que tenho a dor de me não ver sozinho
Na memória fiel do teu olhar.

Nenhum te disse frases de carinho,
Nenhum parou, talvez, para te amar...
E vão perdidos no redemoinho
Da Vida e nunca mais hão-de voltar.

Para ti, nenhum foi o mesmo que eu...
-- Mas porque a tua vista os abrangeu
Mesmo sem alegria, amor ou fé,

Deles alguma cousa em ti existe
-- Alguma cousa que me deixa triste
Porque não posso adivinhar o que é!...

João de Barros
publicado por RAA às 00:09 | comentar | favorito
10
Abr 09
10
Abr 09

NOITE

De noite só quero vestido
o tecido dos teus dedos

e sobre os ombros a franja
do final dos cabelos

Sobre os seios quero
a marca
do sinal dos teus dentes

e a vergasta dos teus
lábios
a doer-me sobre o ventre

Nas pernas e no pescoço
quero a pressão mais
ardente

e da saliva o chicote
da tua língua dormente

Maria Teresa Horta
publicado por RAA às 03:02 | comentar | favorito
06
Abr 09
06
Abr 09

A NESPEREIRA DAS VARANDAS

Anainha entre as grades irritantes
E o tronco num caixote indigno dela,
Sonha uma condição, que não aquela,
Adivinha jardins, hortos distantes.

Sem confiar, porém, no viandante
Que ela vê lá de cima da janela,
Deixou cair as folhas na ruela
E ergueu ao céu os braços suplicantes.

Eu, que venho do campo e ali fui nado,
Bem avalio a pena que lhe assiste
Longe do ar puro, e fresco, e perfumado.

Ó minha irmã! Ó pobrezinha! Ó triste!
Como tu, ando alheio, ando exilado,
Preso da mágoa a mais atroz que existe.

Ed. Bramão de Almeida
publicado por RAA às 02:02 | comentar | favorito
03
Abr 09
03
Abr 09

GATO

Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pelo, frio no olhar!

De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?

Alexandre O'Neill
publicado por RAA às 00:14 | comentar | favorito