31
Out 10

QUATRO POEMAS DO RETARDADOR (2)

Neva na hora parada
Em que penso que pensar
É uma espécie de luar
Numa paisagem lembrada;

Neva, lenta, retratada,
A minha tristeza disto,
-- Como o luar entrevisto
Duma janela fechada;

E neva, mais sonolenta
Nessa longínqua lembrança,
O luar de ser criança
A vê-la tombar, tão lenta...

Carlos Queirós
publicado por RAA às 22:48 | comentar | favorito

A AMADA

Ela é uma frágil gazela:
Olhares de narciso
Acenos de açucena
Sorriso de margarida.

E se seus brincos se agitam
Quedam-se os braceletes na escuta
Da música do requebro da cintura.

Ibn 'Ammar

(Adalberto Alves)
publicado por RAA às 19:57 | comentar | ver comentários (2) | favorito
31
Out 10

DEIXA

À tua mãe o marfim crucificado
ao teu pai o vício mais ronceiro
e a quem quiser
os lindos pentes da virtude

Frases célebres
todas
e não esqueças aquela
que diz assim
                              PAIS
                          que fazeis?
                  OS VOSSOS FILHOS
                       não são tostões
                GASTAI-OS DEPRESSA!

Deixa também a ilusão de que te amaram
àquelas duas que ali não vês

Só no tempo em que os suicidas
como os animais falavam
valia a pena desiludir

Deixa ainda
o que a álgebra mais secreta
decidiu a teu favor

A sombra que projectaste
talvez alguém a resolva
num diamante cruel

Alexandre O'Neill
publicado por RAA às 16:15 | comentar | favorito
30
Out 10

PROPOSIÇÃO

Dias turvos e inconsequentes sucedem
a dias inconsequentes e turvos.
Um apito estridente anuncia
o encerramento das portas do Metro;
a cintilação de uma chapa de zinco
cria a ilusão de sol que brilha no rio,
ao fundo. A lama enrola-se
nas veias, que o álcool nocturno
espessa -- nenhuma notícia
confirma que a dívida tem de ser
paga e é prudente desconhecer
quem a contraiu ou porquê.
O prazo caducou e é bem-vindo
todo o adiamento, confiando
que possa ser o último.

José Alberto Oliveira
publicado por RAA às 23:40 | comentar | favorito

INFÂNCIA II



Tão pequenas
a infância, a terra.
Com tão pouco
mistério.

Chamo às estrelas
rosas.

E a terra, a infância,
crescem
no seu jardim
aéreo.

Carlos de Oliveira
publicado por RAA às 19:33 | comentar | favorito

QUATRO POEMAS DO RETARDADOR (1)

Lento, no lago, naufraga
Um lírio, liricamente...
-- E lento se torna algente
O luar que o lago alaga.

Lento, ao luar liquescente,
As lentilhas se afastaram...
Mas logo, lento, voltaram
A juntar-se, novamente.

(E um leve ondular dolente
Foi o que fátuo ficou,
Do lírio que se afundou
Lento, lenta, lentamente...)

Carlos Queirós
publicado por RAA às 16:06 | comentar | favorito
30
Out 10

...

Tens que fazer, meu rapaz?
Não tardes que o tempo foge.
O trabalho a dois se faz?
Aqui me tens para hoje.

Manda por mim, que eu hei-de ir.
Por mim chama, que ouvirei.
Usa-me antes de eu partir
Pra onde não prestarei.

Antes que a carne envelheça,
E morta seja a vontade,
E o lábio já nem estremeça
Dizendo: -- Rapaz, é tarde.

A. E. Housman

(Jorge de Sena)
publicado por RAA às 14:25 | comentar | favorito
29
Out 10

...

A nossa linguagem é
mecânica,
atomística
ou dinâmica.
A linguagem poética autêntica
será orgânica, viva.
É tão grande a pobreza das palavras
para dizer de um só golpe
a ideia plural!

Novalis

(João Barrento)
publicado por RAA às 23:25 | comentar | favorito

Poetas do Século XVIII

título: Poetas do Século XVIII
antologiador: M. Rodrigues Lapa (Anadia, 20.4.1897 - 28.3.1989)
edição: 3.ª
os poetas: Correia Garção, Cruz e Silva, Domingos dos Reis Quita, Filinto Elísio, Tomás António Gonzaga, João Xavier de Matos, José Anastácio da Cunha, Marquesa de Alorna, José Agostinho de Macedo
colecção: «Textos Literários»
editora: Seara Nova
local: Lisboa
ano: 1967
capa: Guilherme Lopes Alves
págs.: VIII+111
dimensões: 19,3x12,4x1,2 cm. (brochado)
impressão: Emp. Jornal do Comércio, Lisboa
publicado por RAA às 20:52 | comentar | favorito
29
Out 10

...

Assumamos o corpo e o
prazer, bebamos no elmo
de bronze o vinho e os
cheiros de fogo.

Orlando Neves
publicado por RAA às 20:47 | comentar | favorito