28
Mar 12

SONETO PLUMÁRIO

No espaço a inquieta pluma rodopia,

rodopia no espaço a pluma inquieta.

Na haste, a gota de sangue da agonia

oscilante no espírito da queda.

 

O espaço é grande e azul demais para essa

pluma plainando solitária e fria

sob o teto de abril, a coisa aérea,

leve, levada pela ventania

 

para o chão, aproxima-se suave,

nota de canto, ainda um pouco de ave,

quando afinal termina o giro e pousa,

 

vê-se que a pluma exânime, caída,

era música e sal, era o gemido

migrante da asa e a lágrima do voo.

 

Mauro Mota

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28
Mar 12

ONDAS

Onde -- ondas -- mais belos cavalos

Do que estes ondas que vós sois

Onde mais bela curva do pescoço

Onde mais longas crinas sacudidas

Ou impetuoso arfar no mar imenso

Onde tão ébrio amor em vasta praia.

 

Dezembro 89

 

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

 

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