NO ARCO DO SILÊNCIO
Para o Carlos Jorge Morgado Pereira
e para a Teresa Jorge
Foi tempo não te ver dia após dia
e tempo será ver-te à minha frente
no voo da flecha nua que desfira
o teu silêncio no arco do silêncio
ou no aroma de estevas que subia
entre soltas ribeiras sós e lentas
línguas de areia cujo súbito meio-dia
viria podar de sombra corpo dentro
o vagar da memória por que pulsa
o coração que o sono alenta ao rubro
da formosura intacta das romãs
Mas se outro é todo o tempo propriamente
nada há que volte ou parta enfim porquanto
ser e não-ser de tudo é sempre o tempo
Miguel Serras Pereira