29
Jan 15
29
Jan 15

AMARGUINHA

Minetes

em gajas ácidas

só dão

amargos de boca

 

Dick Hard, De Boas Erecções Está o Inferno Cheio

publicado por RAA às 19:54 | comentar | favorito
27
Jan 15
27
Jan 15

REFLEXO CONDICIONADO

Pense rápido:

Produto Interno Bruto

             ou

brutal produto interno

             ?

 

Antonio Carlos de Brito,

in Heloisa Buarque de Hollanda, 26 Poetas Hoje (1976)

publicado por RAA às 13:47 | comentar | ver comentários (6) | favorito
26
Jan 15
26
Jan 15

MUDA AOS CINCO, ACABA AOS DEZ

Fui-te à cona, fui-te ao cu

obriguei-te a fazer broche

fiz-te vir em catadupas

mas no fim fui teu fantoche

 

Dick Hard, De Boas Erecções Está o Inferno Cheio

publicado por RAA às 19:36 | comentar | favorito
23
Jan 15
23
Jan 15

POEMA

Havia um menino

que tinha um chapéu

p'ra pôr na cabeça

por causa do Sol:

em vez de um gatinho

tinha um caracol

tinha um caracol

dentro do chapéu.

Fazia-lhe cócegas

no alto da cabeça,

por isso ele andava

depressa, depressa,

p'ra ver se chegava

a casa e tirava o chapéu,

saindo

de lá e caindo

o tal caracol.

Mas era, afinal,

impossível tal,

nem fazia mal

nem vê-lo, nem tê-lo

porque o caracol

era de cabelo!

 

Fernando Pessoa,

in Maria de Lourdes Varanda & Maria Manuel Santos,

Poetas de Hoje e de Ontem

do Século XII ao XXI

para os Mais Novos

publicado por RAA às 13:14 | comentar | favorito
21
Jan 15
21
Jan 15

OBSESSÃO

Quero a Noite completa, desumana.

A Noite anterior. A Noite virgem

de mim. A Noite pura. Quero a Noite,

aonde é impossível encontrar-te.

 

Que não há rio nem rua nem montanha

nem floresta nem prado nem jardim

nem pensamento algum nem livro algum

em que não me apareças sorridente.

 

Sebastião da Gama,

Pelo Sonho É que Vamos

publicado por RAA às 22:52 | comentar | favorito
20
Jan 15
20
Jan 15

REGRESSO

A rua é ainda a mesma. As mesmas flores,

o mesmo sol que nada nos recorda.

O mesmo sonho triste e papa-açorda

em que se esvaem as humanas dores!

 

Nada mudou nestes dois anos. Só

tua casta presença me falece.

Relembro, a medo, a solitária prece,

que o teu vulto sereno me ensinou.

 

Tão pouco peço, Deus! Entanto, os dias

começam e acabam como outrora...

Na velha casa, uma outra virgem mora;

alguém relê os livros que tu lias!

 

A blusa que vestias -- verde-mar,

como a recordo! -- era um segredo esquivo,.

Hoje é outra que a veste em teu lugar,

com o mesmo modo álacre, rubro, vivo!

 

Nada mudou. O mesmo sol, a rua

onde outrora, calados, nos olhámos,

o piano subtil, os mesmos ramos

de roseira silvestre...

                                                -- Só a tua

casta presença grácil se perdeu:

doce lembrança musical, alado

e húmido olor de maresia -- véu

que envolve este retorno inesperado.

 

Daniel Filipe, A Ilha e a Solidão (1957)

in Manuel Ferreira, No Reino de Caliban I

publicado por RAA às 13:50 | comentar | favorito
19
Jan 15
19
Jan 15

TEMPESTADE

O Vento enchia o Mundo. Mal deixava

lugar para a tremenda voz das ondas.

 

Mas era o Mar apenas que se ouvia.

 

Sebastião da Gama,

Pelo Sonho É que Vamos

publicado por RAA às 23:08 | comentar | favorito
15
Jan 15
15
Jan 15

EX-LIBRIS

Todos bebem o seu vinho,

De qualquer modo, -- mesmo os que não bebem:

Porque também é vinho o que concebem

Para esquecer o caminho.

A Poesia, é o meu vinho;

-- Que importa o que os outros bebem?!

 

Carlos Queirós,

Desaparecido

publicado por RAA às 22:37 | comentar | favorito (1)
05
Jan 15
05
Jan 15

"Medos de inferno e esperanças de outro céu!..."

Medos de inferno, e esperanças de outro céu!...

Que a vida é toda a ciência que eu

pude aprender, e tudo o mais mentira.

A flor que foi é flor que já morreu.

 

Omar Khayyam,

in Jorge de Sena, Poesia de 26 Séculos (1972)

publicado por RAA às 18:40 | comentar | favorito