28
Nov 15
28
Nov 15

A CASA

Paredes brancas pátios interiores

as mesas largas as cadeiras quase toscas

despojamento de convento e de deserto

a planície prolonga-se na casa

com seu rigor e sua estética

do necessário

do liso

do elementar.

 

Aristocracia do pobre

com sua manta e com seu cobre.

 

Há um cheiro a pão recém-cortado.

 

A casa alentejana está escrita na planície

como o poema no branco descampado.

 

Manuel Alegre, Alentejo e Ninguém (1986)

publicado por RAA às 00:14 | comentar | ver comentários (2) | favorito (1)
18
Nov 15
18
Nov 15

AS MÃOS

Componho com as linhas dos meus dedos outros puros

cujas pontas façam girar nenhum raio sucessivo

de sol Dedos sem o cadastro de enlaces doendo

e se declamo ficções que eles escorem

Sem par noutras mãos Nem fundos na algibeira

mexidamente obscenos e a salvo da garra dos gatilhos

Dedos com um horizonte de pálpebra baixando

que assim não acordem as formas tacteadas

donde um sono mane estrie os paços vedados

Dedos de que mesmo a chuva escorra sem uma lágrima

Ou os que já compus e assinam e adiam o poema.

 

Sebastião Alba, A Noite Dividida (1996)

publicado por RAA às 18:44 | comentar | ver comentários (5) | favorito
04
Nov 15
04
Nov 15

ULISSES

A esperança posta num bonito salário

corações veteranos

 

Este vale de lágrimas. Estes píncaros de merda.

 

 

                                 ***

 

 

          O cidadão que vejo no espelho

          é mais moço que eu

          mais eriçado que eu

          mais infeliz que eu

 

Roberto Schwarz,

in 24 Poetas Hoje

(edição de Heloisa Buarque de Hollanda, 1976)

publicado por RAA às 22:39 | comentar | ver comentários (3) | favorito