PÁSSARO-LYRA

II

Abri o Azul e vi dois amantes de musgo abraçados. Esculpiam taças de leite coagulado por onde bebiam perfume

A minha insónia despe-se no meio do quarto e nua, friorenta, dança devagar o tango da luz

Lembro-me do cacto e da fonte. Da maneira como estas duas palavras -- uma no deserto, outra próximo de casa -- eram escritas: no caderno de marfim com um golpe de rins de caneta de tinta eterna

Pássaro-Lyra, Pássaro-Lyra, Pássaro-Lyra, Deserto Grande do Cacto, Água Grande da Fonte, Queda de Vinho na Escadaria, Princesa Blindada de Brandura, Flor-Floresta, Nave, País das Áleas, ó imagem entre todas querida!

Debaixo das tuas asas ao calor do sangue
aqueço o poema antes de o comer
pão de limo olhos de mel
até de manhã meu alimento

António Barahona
publicado por RAA às 19:56 | comentar | favorito