NATUREZA MORTA

O amarelo bondoso

das maçãs

alastrava ao prato de faiança

 

por cima, o embaraço fálico

de duas bananas estrangeiras

 

ao lado, umas uvas tardias

escorregavam lassas

entre os dedos

 

uma nódoa negra

tinha tocado podre

uma descuidada e solitária pêra rocha

 

e coroando o prato

o riso eufórico

de cinco belíssimas laranjas!

 

Um ramo de hortelã

ainda verde

num púcaro transparente

perfumava o ar

 

Enquanto para lá do vidro da janela

o sol outonal, desprevenido

persistia em brilhar.

 

Ângela Leite, As Horas de Penélope

publicado por RAA às 13:49 | comentar | favorito