NOSSO É O MAR

Nosso é o mar. Nosso e renosso.

Pla dor, pla teimosia, pela esperança.

Nosso até onde a vista o não alcança.

Nosso até onde é nosso o que for nosso.

 

Mas depois de o ter ganho abandonámos

alma e corpo à fadiga de o ter ganho.

Bartolomeu, não olhes. Não despertes

do sono que te dorme há cinco séculos.

 

Já o gume das quilhas não fecunda

teu ventre feminino, Mar aberto.

Falsa energia a nossa! Desflorado

teu sexo, Mar, aos corvos o cedemos.

 

Voluptuosa e saudável, tua carne

é convite e oferta como dantes.

Nós, mortos! Nós, sem força! Nós, sem fogo,

de uma saudade mole possuídos!

 

Sebastião da Gama, Pelo Sonho É que Vamos (póstumo, 1953)

publicado por RAA às 13:37 | comentar | favorito