09
Jan 11

...

Na retina, no córtex, madrugada
finalmente telex já desponta:
começa mais um livro de mão dada
ao Invisível, mais um susto cava
abismo denso ao pé da letra contra
a expectativa da serpente fascinada:
aparição de Deus à tua sombra

António Barahona
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03
Jan 11

PÁTRIA MINHA

XVII

Dinamene a chilrear contra o crepúsculo
o cabelo dinamiza oh quão semelhante ao teu
é o meu céu, nadador do mar de breu, músculo
no braço erguido com o livro que é meu enquanto
eu for vivo em rosácea e em suspenso ilimitado

Dinamene raça de rapariga nos dias da raça do Poeta
arraçado de desgraça, Senhor Lusitano da Graça
na minha hagiografia herética onde o santo aventureiro
navega no poema à trinca com cheiro a trevas

Dinamene digo que me levas contigo : ressuscitada cuidas
do Poeta enquanto for vivo o português e as caravelas

António Barahona
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30
Dez 10

PÁSSARO-LYRA

II

Abri o Azul e vi dois amantes de musgo abraçados. Esculpiam taças de leite coagulado por onde bebiam perfume

A minha insónia despe-se no meio do quarto e nua, friorenta, dança devagar o tango da luz

Lembro-me do cacto e da fonte. Da maneira como estas duas palavras -- uma no deserto, outra próximo de casa -- eram escritas: no caderno de marfim com um golpe de rins de caneta de tinta eterna

Pássaro-Lyra, Pássaro-Lyra, Pássaro-Lyra, Deserto Grande do Cacto, Água Grande da Fonte, Queda de Vinho na Escadaria, Princesa Blindada de Brandura, Flor-Floresta, Nave, País das Áleas, ó imagem entre todas querida!

Debaixo das tuas asas ao calor do sangue
aqueço o poema antes de o comer
pão de limo olhos de mel
até de manhã meu alimento

António Barahona
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27
Dez 10

RE--

Re--
começo a caminhar em atitude
predestinada como convém a quem
sabe que não sabe nada e ilude
a ignorância com poemas

António Barahona
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30
Nov 10

FLASH DE JOHN COLTRANE

para Rão Kyao

a ouvir Stardust de John Coltrane
o meu destino é este debruçado na
pirâmide com o coração aberto em quatro
de maneira esfíngica no deserto sempre
que outro lugar não há à mercê de ser
livre dono da deriva do barco

7-10-77

António Barahona
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11
Set 10

Noite do Meu Inverno

autor: António Barahona
título: Noite do meu Inverno
edição: ICHTHYS
local: Lisboa
ano: 2001
págs.: 159
dimensões: 20,9x14,6x1 cm. (brochado)
composição e paginação: Fátima Barahona
impressão: Editorial Minerva, Lisboa
tiragem: 400 exemplares
capa: Luís Manuel Gaspar, sobre vinheta de Maria del Pilar Andalúz
observações: poema inaugural de Ruy Cinatti, dedicado ao Autor
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20
Set 08

NÚRIA

A lentamente bela bruxa cisne magro
A lentamente mate cor do pão de trigo
A lentamente Núria de navalha e ligas

Ah lentamente o corpo se compara ao cubo
e muda as asas quentes em arestas frias!
Mãos vestidas de roxo a festejar a tristeza
em Sexta-feira Santa d'oração medonha!

Ah lentamente a Espanha em procissão nas ruas,
cabelos degrenhados mais guitarras nuas!
Ah Núria, rosa-névoa, lâmina de pétalas
a recortar raízes dos meus olhos d'húmus!

Ah lentamente lentamente aponto e estico
o arco: assobia a flecha no teu flanco
e, de repente, no meu sangue flui um barco

Paço d'Arcos, 13.X.72
António Barahona
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20
Ago 08

ELEGIA BRANCA

Cabelos brancos de minha mãe
Ausência branca de minha mãe

Corpo de rosa branca de minha mãe
Sangue de rosa vermelha de minha mãe

Luto carregado de lírios brancos por minha mãe
Lírios brancos carregados de luto por minha mãe

Lx. 10.V.92
António Barahona
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