16
Out 12

...

[...] nãi há poeta, que o seja de nascença e de índole, que não proteste -- clara ou veladamente -- contra o presente, contra o imediato existente, quer se debruce sobre o passado, quer se volte para o futuro.»

João de Barros, Eugénio de Castro (conferência), 1945 

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09
Set 11

Obras Poéticas de Eugénio de Castro - Volume V

autor: Eugénio de Castro (Coimbra, 4.III.1869-17.VIII.1944)
título: Obras Poéticas de Ferreira de Castro -- Volume V (inclui Contança, Depois da Ceifa e A Sombra do Quadrante)
prefácio: Miguel de Unamuno (1907)
editora: Lumen
local: Lisboa
ano: 1929
págs.: 184
dimensões: 19,3x13x1,7 cm. (brochado)
impressão: Imprensa Nacional de Lisboa
obs.: foto do autor em 1911, extratexto
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28
Out 10

A ESCADA DA VIDA

Encontrou-se a Caridade
Com o Orgulho, certo dia:
Subia o orgulho uma escada,
E a Caridade descia.

Ela humilde, ele arrogante,
No patamar dessa escada
Os dois, cruzando-se, viram
Uma rosinha pisada.

Emproado, o Orgulho, vendo-a,
Deu-lhe nova pisadela;
De joelhos, a Caridade
Deitou-se aos beijos a ela.

Mas nobres passos se ouviram
De som divino e tremendo:
O Orgulho seguiu subindo,
E a Caridade descendo...

E a voz de Deus, entretanto,
Disse, bramindo e sorrindo,
-- «Tu, que sobes, vais descendo!»
-- «Tu, que desces, vais subindo!»

Eugénio de Castro
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16
Set 10

ROSAS

Que abundância de rosas! Todas elas,
Ao penugento arfar da viração,
Sob os mimos da luz, sorrindo estão,
Radiosas como bocas, como estrelas.

Tu que andas, fina e pálida, a colhê-las
Para alindar com pura devoção
Teu oratório, ansioso o coração,
As mais vivas escolhes, as mais belas.

Já encheste, afanosa, duas cestas,
Mas ainda quer's mais! E desbotadas,
Por entre as rosas mil, de essências brandas,

As tuas mãos, translúcidas e lestas
Lembram duas freirinhas maceradas,
Conduzindo ao recreio as educandas.

Eugénio de Castro
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02
Set 10

...

Tua frieza aumenta o meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.

Humildemente, atrás de ti rastejo,
Humildemente, sem te convencer,
Antes sentindo para mim crescer
Dos teus desdéns o frígido cortejo.

Sei que jamais hei-se possuir-te, sei
Que outro, feliz, ditoso como um rei,
Enlaçará teu virgem corpo em flor.

Meu coração no entanto não se cansa,
Amam metade os que amam com esp'rança,
Amar sem esp'rança é o verdadeiro amor.

Paris, 29 de Setembro de 1889

Eugénio de Castro
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21
Ago 10

PELAS LANDES, À NOITE

Pelas landes e pelas dunas
Andam os magros como pregos,
Os lobos magros como pregos,
Pelas landes e pelas dunas.

Olhos de fósforo, esfaimados,
Numa pavorosa alcateia,
Andam, andam buscando ceia,
Olhos de fósforo, esfaimados.

Nas landes grandes, junto às dunas,
Um menino perdido anda,
Anda perdido a chorar anda,
Nas landes, junto às brunas dunas.

Senhor Deus de Misericórdia,
Protegei o róseo menino,
Protegei o róseo menino,
Senhor Deus de Misericórdia.

Porque nas landes e nas dunas
Andam os magros como pregos,
Os lobos magros como pregos,
Nas grandes landes e nas dunas.

Eugénio de Castro
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11
Jul 10

EPÍGRAFE

Murmúrio de água na clepsidra gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante,
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre...

Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa...

Eugénio de Castro
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