25
Mai 11

HISTÓRIA DE CÃO

eu tinha um velho tormento
eu tinha um sorriso triste
eu tinha um pressentimento

tu tinhas os olhos puros
os teus olhos rasos de água
como dois mundos futuros

entre parada e parada
havia um cão de permeio
no meio ficava a estrada

depois tudo se abarcou
fomos iguais um momento
esse momento parou

ainda existe a extensa praia
e a grande casa amarela
aonde a rua desmaia

estão ainda a noite e o ar
da mesma maneira aquela
com que te viam passar

e os carreiros sem fundo
azul e branca janela
onde pusemos o mundo

o cão atesta esta história
sentado no meio da estrada
mas de nós não há memória

dos lados não ficou nada

Mário Cesariny
publicado por RAA às 10:49 | comentar | favorito
01
Fev 11

...

à victor brauner

tiens c'est le chat illégal
quoi qu'absolument visible
il allume un feu tout blanc
il vient de jeter de l'eaux aux virgules
père    mère    poire    poète
attention le nain vous respire
fuez ses gants coupez vite le sable
on va être morts sous la table

Mário Cesariny
publicado por RAA às 19:44 | comentar | favorito
26
Jan 11

HOMENAGEM A CESÁRIO VERDE

Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um último cigarro
um feijão branco em sangue e rolas cozidas

Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no país!

Mário Cesariny
publicado por RAA às 23:59 | comentar | favorito
21
Jan 11

PASTELARIA

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
-- ele há tanta maneira de compor uma estante!

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora -- ah, lá fora! -- rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mário Cesariny
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15
Jan 11

ARTE POÉTICA

b) o mesmo


avé mari'
um dois dois três
cheia de grá'
um dois três quá
o senhor é convosc
dominus vobisc
bendita sois vós
espírito tu
entre as mulheres
nove dez on'
bendito é o fruto
zasseis zassete
do vosso ventre jesus
dois três um dois três um dois quatro quá'


Mário Cesariny 
publicado por RAA às 14:26 | comentar | favorito
26
Set 10

Primavera Autónoma das Estradas

autor: Mário Cesariny
título: Primavera Autónoma das Estradas
editora: Assírio & Alvim
local: Lisboa
ano: 1980
págs.: 222
dimensões: 19,9x13,2x1,7 (brochado)
capa: Manuel Rosa
impressão: Beira Douro (Lisboa)
tiragem: 3000
publicado por RAA às 09:47 | comentar | favorito
22
Set 10

Manual de Prestidigitação

autor: Mário Cesariny (Lisboa, 9.VIII.1923 - 26.XI.2006)
título: Manual de Prestidigitação
colecção: «Obras de Mário Cesariny» #1
editora: Assírio & Alvim
local: Lisboa
ano: 1981
capa: arranjo gráfico de Manuel Rosa
págs.: 174
dimensões: 19,8x13,5x1,3 cm. (brochado)
impressão: Beira Douro, Lda. (Lisboa)
tiragem: 3000
publicado por RAA às 19:18 | comentar | favorito
05
Set 10

ARTE POÉTICA

a) o metro

creio em deus pá'
um dois três quá
tod' poderô'
um dois dois três
criador do céu e da té'
seis sete oito
e em jesus cris'
nove dez on'
nosso senhor
ze doze trê'
o qual está sentá'
quatorze quinze
à mão direi'
zasseis zassete
de deus pàd'tôd'poderô'
um dois três um dois três um quatro quatro

Mário Cesariny

publicado por RAA às 14:53 | comentar | favorito
04
Set 08

DÁDIVAS PARA...

CHARLIE CHAPLIN -- A janela do Convento de Cristo de Tomar com a colagem que lhe fez Nicolas Calas em 1942. Sob a janela, uma cama em osso de cavalo provida de telescópio e copo de sangue.
MARILYN MONROE - Um navio de guerra adaptado a ferro de engomar.
FRED ASTAIRE -- Uma dúzia de lagartos muito frescos.
BUGS BUNNY -- Uma prova de corta-mato no primeiro andar do Art Institute of Chicago.
BESSIE SMITH -- O quadro «Mona Lisa» de Leonardo Da Vinci com sistema eléctrico dois-pés-duas-pernas que o façam andar por toda a casa e mesmo subir escadas.
HARPO MARX -- O papel de Iago na ópera «Otelo» de Verdi.
JACK LONDON -- um pequeno cemitério de aldeia.
KRAZY KAT -- Uma árvore japonesa que, dando-se-lhe um charuto, apresenta um telefone anos 30. Na linha, um padre yugoslavo informa continuamente sobre as experiências do Frankenstein de Utrecht.
MAE WEST -- Uma almofada com a forma da cara da senhora Golda Meir.
JERRY LEWIS -- A Torre da Água, de Chicago, mas um pouco mais alta e cortada em fatias longitudinais de onze centímetros cada.
BUSTER KEATON -- Um avião pilotado por uma girafa. Fins de semana: só a girafa.
publicado por RAA às 22:33 | comentar | favorito
01
Set 08

"Quando aqueles que chegavam"

Quando aqueles que chegavam
olhavam os que partiam
os que partiam choravam
os que ficavam sorriam

Mário Cesariny
publicado por RAA às 22:49 | comentar | favorito (1)