...

é quando a noite é um animal ferido
que o poema salva quem o lê abandonado
quando se pressente a voz enlouquecida
de alguém que nos olhou e descobriu
é quando a noite rouba a luz do dia
para construir suas altas fragas de silêncio
e um galope de lábios na sua verdura
nos invade ou nos recolhe em suas crinas
é quando a linha de sombra é o azul da chama
ainda antes de ser contra a pureza nua
o edifício das palavras com dois gumes
é quando sabemos que nos encontramos
num café numa esquina que então escutamos
a pedra angular da nossa vida o poema escrito

António Carlos Cortez
publicado por RAA às 00:50 | comentar | favorito