17
Jul 10

TODOS OS BEIJOS...

Todos os beijos da volúpia, os beijos
Da boca sempre inquieta por beijar-te;
E os beijos da minh'alma, sem desejos
Que não sejam, de longe, acarinhar-te...

E os beijos que são longos, como harpejos
Em que fala o meu sonho e a minha arte,
E os beijos em que o sangue tem lampejos
De ciúme e de febre a alucinar-te...

E os beijos desta angústia, em que procuro
Prender nas minhas mãos o teu futuro,
Saber o anseio dos teus olhos tristes...

E ainda os beijos novos que eu não dera,
Os beijos que eu não dava à tua espera
--E que são teus, Amor que não existes!...

João de Barros
publicado por RAA às 23:06 | comentar | favorito

canção autobiográfica

aos quarenta e dois anos, com um cão e o silêncio
da sua pata cúmplice, a solidão é uma
destreza atormentada; e o coração o incerto secretário
de agonia e desejo, variante da alma.
aos quarenta e dois anos, com um cão e o silêncio.

canção, canção que nunca acabarias
de te escrever, vaivém das
tantas coisas.

Vasco Graça Moura
publicado por RAA às 18:08 | comentar | favorito
17
Jul 10

ADEUS

...Agora
da janela
o que dentro
não está:

fino cotovelo
nuca d'oiro,
joelho dobrando
a esquina só.

«Eh, eh» -- me digo.
E faço um café
que me não sabe.

Bebe-o, noite!,
e que o dia em ti
não mais acabe!|

Pedro Alvim
publicado por RAA às 13:37 | comentar | favorito