quando se está com gripe e nos dói toda a cara o mal-estar só passa imaginando que mozart uma vez encontrou nat king cole e pôs-se a acompanhar quizás, quizás, quizás
a voz de um era rouca na curva do bolero e o piano gemendo em graves da mão esquerda dava a sua resposta a siempre que me preguntas e triste era o refrão, quizás, quizás, quizás.
na música e na vida, algum desesperado, mesmo sem estar com gripe ia perdendo o tempo, sombrio, alcoolizado, pelas melancolias da voz e do piano, quizás, quizás, quizás.
nat king cole e mozart, depois de improvisarem, fumaram um cigarro e foram-se trocando trauteios, estranhezas, de blues e de sonatas, mas tudo fragmentário, quizás, quizás, quizás.
se algum saxofone pegasse nesse tema, juntando variações azuis e lancinantes, podíamos ouvir um köchel qualquer coisa be bop e dissonante, quizás, quizás, quizás.
e voltaria a voz em ritmos sacudidos, no bar, na discoteca, nas sombras, nas entranhas. nat king cole a cantar, mozart a acompanhá-lo, ah, turvos corações, quizás, quizás, quizás.