05
Set 10

O VELHINHO

A J. César Machado

Aquele que ali vai triste e cansado
E mais tremente que os juncais do brejo,
Foi outrora o mais belo e o mais amado
Entre os moços do antigo lugarejo.

Nas fitas desse lábio desmaiado
Quantas mulheres trémulas de pejo
Não sorveram os néctares do beijo
Dos trigais sobre o leito perfumado!

Hoje é velhinho, e fala dos franceses
Aos rapazes da escola, e às raparigas
Que não cansam de ouvi-lo... As mais das vezes

Sobre a ponte, sozinho, ouve as cantigas
Das que lavam no rio, e o olhar estende
Ao sol que ao longe na agonia esplende...

Gonçalves Crespo
publicado por RAA às 22:48 | comentar | favorito

A MARÍA ANTONIA DANS, NA GALIZA

1

Este cansaço, este rumor,
esta indiferença secular,
estes corpos afastados,
esta saudade sem podar
que cresce e cresce e dá flores
pardas de tédio -- vizinhança
das pradarias e do ácer,
do granito e do mar --,
estes caminhos e estes montes
onde a luz e o animal
vão em silêncio, caminhando
sempre com passo igual;
estas choupanas habitadas
por fumo e homens, esta paz
acostumada a este costume
de falar para calar;
e estes veleiros e estas redes
de içar vazias, de pescar,
de guardar as ovas
e curti-las no sal,
dormem -- verdade? -- nos teus quadros
ou irão despertar?

Angel Crespo

(José Bento)
publicado por RAA às 17:15 | comentar | favorito

ARTE POÉTICA

a) o metro

creio em deus pá'
um dois três quá
tod' poderô'
um dois dois três
criador do céu e da té'
seis sete oito
e em jesus cris'
nove dez on'
nosso senhor
ze doze trê'
o qual está sentá'
quatorze quinze
à mão direi'
zasseis zassete
de deus pàd'tôd'poderô'
um dois três um dois três um quatro quatro

Mário Cesariny

publicado por RAA às 14:53 | comentar | favorito
05
Set 10

A MÃO SOBRE O CADÁVER

Hoje a tua mão pousou
sobre o cadáver daquela música.
E ao longe um bando de violinos
ressuscitou-lhe a alma.

A minha mão repousa
sobre a música do teu cadáver.
Uma banda de violinos
interpreta a tua alma.

Luís Adriano Carlos
publicado por RAA às 01:24 | comentar | favorito