de tudo plantou na vida
no exato tempo e na hora.
pegando firme na enxada
cavou fundo na memória.
primeiro quando de colo
plantara leite materno,
logo à frente plantaria
brinquedos, livro, caderno.
semeou depois nos brejos
grão de arroz e sua sala:
não tardou que a casa toda
fosse espalhada na vala.
mais tarde deitou seu sono
dentro de cascas de ervilha
cultivou tomate e soja
sem salitre e fantasia.
quarta-feira plantou fava
muitas quintas plantou milho,
pôs de adubo nas raízes
esterco e leite do filho.
curvado sobre si mesmo
plantou de tudo na vida:
mudas tenras e sementes
do que não teve e não tinha.
plantou coisas que o terreno
reduz a brisas, quimera,
quando o outono desce lento
quando explode a primavera.
Mário de Oliveira