25
Set 10

EXÍLIO

O branco é gesso, é cal para as ossadas,
E eu não lhe encontro asseio de alegria;
Caiei por isso a rosa-alexandria
Minhas quatro paredes exiladas.

Afonso Duarte
publicado por RAA às 23:51 | comentar | favorito

CLAIR DE LUNE

Per amica silentia lunae
VIRGILE.

La lune était sereine et jouait sur les flots. --
La fenêtre enfin libre est ouverte à la brise,
La sultane regarde, et la mer qui se brise,
Là-bas, d'un flot d'argent brode les noirs ilôts.

De ses doigts en vibrant s'échappe la guitarre.
Elle écoute... Un bruit sourd frappe les sourds échos.
Est-se un lourd vaisseau turc qui vient des eaux de Cos,
Battant l'archipel grec de rame tartare?

Sont-ce des cormorans qui plongent tour à tour,
Et coupent l'eau, qui roule en perles sur leur aile?
Est-ce un djinn qui là-haut siffle d'une voix grêle,
Et jette dans la mer les créneaux de la tour?

Qui trouble ainsi les flots près du serail des femmes? --
Ni le noir cormoran, sur la vague bercé,
Ni les pierres du mur, ni le bruit cadencé
Du lourd vaisseau, rampant sur l'onde avec des rames.

Ce sont des sacs pesants, d'où partent les sanglots.
On verrait, en sondant la mer qui les promène,
Se mouvoir dans leurs flancs comme une forme humaine... --
La lune était sereine et jouait sur les flots.

2 septembre 1828.

Victor Hugo
publicado por RAA às 19:06 | comentar | favorito
25
Set 10

...

Tocaram-me na cabeça com um dedo terrificamente
doce, Sopraram-me,
Eu era límpido pela boca dentro: límpido
engolfamento,
O sorvo do coração a cara
devorada,
O sangue nos lençóis tremia ainda:
metia medo,
Se um cometa pudesse ser chamado como um animal:
ou uma braçada de perfume
tão agudo
que entrasse pela carne: se fizesse unânime
na carne
como um clarão,
Um anel vivo num dedo que vai morrer:
tocando ainda
a cabeça o rítmico pavor
do nome,
O leite circulava dentro delas,
É assim que as mães se alumiam
e trazem para si o espaço todo
como
se dançassem,
São em si mesmas uma lenta
matéria ordenada, Ou uma
crispação: uma ressaca,
E quando me tocaram na cabeça com um dedo baptismal:
eu já tinha uma ferida
um nome,
E o meu nome mantinha as coisas do mundo
todas
levantadas
Herberto Helder
publicado por RAA às 12:49 | comentar | favorito