01
Out 10

O Menino e as Estrelas

título: O Menino e as Estrelas
autor: Leonel Neves (Faro, 1921)
colecção: «Pássaro Livre» #14
editora: Livros Horizonte
local: Lisboa
ano: 1979
capa e ilustrações: Tòssan
págs.: 29
dimensões: 22,9x15,5x0,4 cm (brochado)
impressão: Altagráfica, Mafra
publicado por RAA às 19:00 | comentar | favorito

SINOS AO LONGE

Chegam de longe
Vindas na aragem,
Imagens débeis
De bronzes finos...
E, cristalinas,
Pousam na aragem,
Na aragem vaga,
Flébeis e finas,
Como essas penas
No ar, serenas,
Que o ar afaga
Só de ampará-las
E suspendê-las.
Expiram longe,
Ida na aragem,
Imagens débeis
De bronzes finos,
De coisas flébeis...

Afonso Lopes Vieira
publicado por RAA às 15:57 | comentar | favorito

...

Como vive essa rosa que prendeste
junto ao teu coração?
Nunca até hoje contemplei no mundo
uma flor sobre um vulcão.

Gustavo Adolfo Becquer

(José Bento)
publicado por RAA às 14:17 | comentar | favorito

VOYAGEUR AU-DESSUS DE LA MER DE NUAGES

                                                                                                                                                                                                                          ao António S. Oliveira

Na solidão da mesma noite
e do mesmo monte
onde vasos
da luz ainda há pouco se entornavam.

Com a palma da mão
cobrindo os olhos, na retina
o fluxo de antigos silêncios,
a ciência do poente perdida
na terra firme do quarto

onde há-de caber sempre
o rosto de uma figura romântica
cismando sobre um mar de nuvens.

Rui Lage
publicado por RAA às 12:26 | comentar | favorito
01
Out 10

OBRA-PRIMA

Quando a tua mão acaricia a minha perna
os sensores da pele desencadeiam reacções sentimentais
e às vezes chego a ter uma reacção motora. O ângulo
da perna, a inclinação do pé -- maravilhas-te com a paisagem
ocasional: depois da curva da estrada estabilizas o olhar
na curva do joelho. Os olhos impacientam-se em sacudidelas
invisíveis mas o espelho reflecte apenas imobilidade.
A sandália: o teu olhar vai do joelho à nudez do pé. Este pé
que calcorreia as ruas é também objecto de desejo: o pé
que calca o travão a fundo. Sei que vais beijar-me -- talvez
nem tu saibas que a postura do teu corpo tem o formato
de beijo. A carícia necessita de um controlo minucioso,
da pressão exacta para que não me esmagues a rótula.
O contacto é doce na pele que te ofereço, a carícia
é a obra-prima da engenharia mecânica. Olho a baía
onde se reflectem os néons da noite e deixo o corpo
trabalhar à vontade. Depois adormeço com a tua mão
na minha perna e a vaga consciência de que o paraíso
se estende da ponta dos pés até ao cimo da cabeça.

Rosa Alice Branco
publicado por RAA às 11:28 | comentar | favorito