04
Out 10

AFTER THE OPERA

Down the stone stairs
Girls with their large eyes wide with tragedy
Lift looks of shocked and momentous emotion up at me.
And I smile.

Ladies
Stepping like birds with their bright and pointed feet
Peer anxiously forth, as if for a boat to carry them out of the
[wreckage;

And among the wreck of the theatre crowd
I stand and smile.
They take tragedy so becomingly;
Wich pleases me.

But when I meet the weary eyes
The reddened, aching eyes  of the bar-man with thin arms,
I am glad to go back to where I came from.

D. H. Lawrence
publicado por RAA às 19:57 | comentar | favorito

O HOMEM DO SUL

Cheguei e perguntei
pelo grito do granito.

Rigor obstinado,
era o que ele dizia.
Ele, o homem do sul,
e persistia.

Deita uma palavra ao mar.
Exemplo: rio.
Abandona outra: vento, ao próprio vento.

Mas se o quiseres escutar
é melhor deixares
lá fora
o teu lamento.

Armando Silva Carvalho
publicado por RAA às 16:04 | comentar | favorito

...

O pensamento do farol
estende-se pelo mar
à noite
quando é sua a luz marinha.

Daniel Maia-Pinto Rodrigues
publicado por RAA às 14:36 | comentar | favorito

A ÁRVORE DA SOMBRA

A árvore da sombra
tem as folhas nuas
como a própria árvore ao meio-dia
quando se finca à terra
e espera
como um cão espera o regresso do dono.
Nós abrigamo-nos mais tarde
ou mesmo agora num lugar
muito distante
onde o tempo recorta
um tapete que esvoaça no papel.
A casa da sombra
é branca e habitada.
Somos nós ainda
sentados ao fogo que o teu sorriso
acende e aconchega
no silêncio que ilumina
a árvore da sombra
para que a noite desenhe
o seu nome visível
e a sombra possa contemplar
os ramos mais belos e o tronco mais esguio
do seu objecto.
Nesta sombra há um imenso amor
ao meio-dia.
A hora dos prodígios
é feita de segundos do tempo que há-de vir
e o horizonte
é a proximidade total da tua boca.

Rosa Alice Branco
publicado por RAA às 12:51 | comentar | favorito
04
Out 10

UMA CANÇÃO DA PRIMAVERA

Nesta flor sem fruto que aspiramos
Eu vejo coisas que ninguém descobre:
Descubro o grão, o caule, os ramos,
E até o sulfato de cobre.

E ainda vejo o que ninguém mais vê:
Vejo a flor a desenhar-se em fruto.
E quer ela o dê, quer não dê,
É esse o fim por que luto.

Coimbra, 24.XI.949

Antero Abreu
publicado por RAA às 10:40 | comentar | favorito