11
Out 10

OS VERSOS

Os versos assemelham-se a um corpo
quando cai
ao tentar de escuridão a escuridão
a sua sorte

nenhum poder ordena
em papel de prata essa dança inquieta

José Tolentino Mendonça
publicado por RAA às 23:57 | comentar | favorito

NOITES DE MACAU (1)


Da boca da noite soltam-se as sombras,
encostam-se aos muros,
deitam-se no asfalto.
Por vezes atravessam as ruas
a correr.
Junto ao Lou Lim Leoc
eu vi duas mulheres
saírem de uma casa
cor de rosa.
Gritavam aos deuses tailandeses,
traziam os cabelos soltos,
e choravam.

António Augusto Menano
publicado por RAA às 22:13 | comentar | favorito

(FALA DO MAR)

-- Arte de Amar, eu fui antigamente
E sou, seu Mestre antigo e venerável.

No princípio do mundo, tempo incerto,
E quando a terra apenas aflorava
Num ar entorpecido, torvo e inútil,
Pois não surgira ainda vida viva
Que o respirasse em folha de verdura
Ou ave acasalada ou fera uivante;

No princípio do mundo (na incerteza,
no Tudo e Nada do começo) arfando
Em meus ondados, espraiados ritmos,
Eu fui o que ensinei primeiramente
A Terra inconsciente, agreste e rude,
Artes de Amor divino;  quer erguido
Em aluado espasmo; quer beijando
Morna nudez de fragas; quer cingindo,
Com meus longos abraços de volúpia,
Indecisos contornos de montanhas,
Puberdade de curvas amorosas.

E depois que ensinei minha arte antiga
É que a Terra foi Mãe e foi mais bela:

As duras fragas conceberam fontes.

As fontes conceberam as verduras.

As aves construíram os seus ninhos.

E as feras monstruosas, ternamente,
Caros filhos do Amor amamentaram...

António Correia de Oliveira
publicado por RAA às 14:28 | comentar | ver comentários (2) | favorito

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES

De tanto bater à porta
Da noite que à noite cai,
Ninguém com ele se importa
Nas ruas por onde vai.

De volta a casa, não diz
Como aprendeu a acender
Estrelas que o fazem feliz
Porque não querem morrer.

Vergílio Alberto Vieira
publicado por RAA às 12:31 | comentar | favorito
11
Out 10

PAZ

Quem se zangou com as oliveiras?
Porque as abanam tanto?
Pronto, já caíram as azeitonas.
As pessoas apanham-nas como jóias.
Mas uma ficou esquecida:
na árvore, exausta e feliz,
ela adormece suavemente.

Teresa Guedes
publicado por RAA às 10:53 | comentar | favorito