06
Dez 10

IDÍLIO MORTO

Que fará a esta hora a minha andina e meiga Rita
de junco e capulim;
agora que me asfixia Bizâncio e que dormita
o sangue, como débil conhaque, dentro em mim.

Onde estarão suas mãos que em posição contrita
engomavam nas tardes uma brancura ainda por ver;
agora, nesta chuva que me evita
o gosto de viver.

Que será de sua saia de flanela; de seus
trabalhos; seu andar;
do seu sabor a canas de maio do lugar.

Há-de estar à sua porta, olhando o céu nublado,
e a tremer dirá: «Oh que frio... meu Deus!»
E um pássaro selvagem chorará no telhado.

Cesar Vallejo

(José Bento)
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06
Dez 10

...

A penúria da língua é a sua força.
Reconhecendo nela a indigência
mais o apuro se empolga
e a submissão empolga a subtileza
do espírito, dado a obra
e a mais nada que não seja ela.
De aí que se desenvolva
uma abertura hiante de surpresa
que pede língua cada vez mais nova
e de mais adequada obediência.
Ou, se quiserem, língua peremptória.
Porque, vinda do fundo da pobreza,
entrega apenas quanto falta. E torna
a sua falta uma abertura imensa,
indigitando o extremamente fora,
cuja ausência feliz se nos entrega.

Fernando Echevarría
publicado por RAA às 17:45 | comentar | favorito