27
Dez 10

COMO PODERÁS ENTENDER?

lembro-me sobretudo desses dias.

depois do sol tu vinhas.

eram belas as túnicas de argel e as velhas botas espanholas que te
dera o último amante.

o john lennon gritava
                        give me some truth
                                                give me some truth
e tu rias
                        rias como em noites de festas pagãs.

hoje
sentado neste bar quinhentista e fluvial de um país sonâmbulo
a máquina de discos repetindo êxitos da década 60
os pequenos barcos do rio dirigem-se para oeste
enquanto os marinheiros do passado há muitas horas bebem aguardente.
TU

perdida nas vertiginosas danças bárbaras como antigamente
como poderás entender esses lugares de paixão
onde me sento e bebo
ouvindo as histórias da época prodigiosa?

José Agostinho Baptista 
publicado por RAA às 23:55 | comentar | favorito

MEDITAÇÃO 6.

Naum 2.4. Tinge-se de rubro o escudo dos seus valentes, seus guerreiros vestem-se de escarlate; o aço dos carros preparados parece fogo, e os cavalos empinam-se. O mercador e os sonhos

Mais correcto seria dizer pesadelos.
Todavia, ao despertar de madrugada,
outros ruídos emergem distantes: as
pancadas ritmadas de um velho relógio

de sala, o restolhar de pássaros numa
água-furtada, a sirene de uma
ambulância, ou um cão ladrando muito,
muito longe, ou vento agitando os

plátanos, ou vozes de crianças... ainda
vozes de crianças. Um insecto imenso
baila no cortinado em fusão com o

fumo, uma breve encenação da luz.
O fumo anula o revérbero mas
aquelas vozes soam mais perto do sangue.

Mário Avelar
publicado por RAA às 18:27 | comentar | favorito
27
Dez 10

RE--

Re--
começo a caminhar em atitude
predestinada como convém a quem
sabe que não sabe nada e ilude
a ignorância com poemas

António Barahona
publicado por RAA às 16:08 | comentar | favorito