30
Dez 10

CARTA A MARIANA

Só existes no prenúncio do teu nome
e na pulsão
crescente
da mãe
que há muito
te deseja
e quer
vir a ajuntar
à corola acetinada das boninas
a energia genética da espiga
e ao sabor agridoce da amora silvestre
o nome de um pai
que se reveja por igual no vosso olhar
gira as valências de um metal nobre
o bouquet subtil de vinho generoso
o timbre inebriante de uma voz

mariana
olhos verdes ou azuis
quais os meus
do colo da tua mãe
dá-lhe beijos
muitos beijos
por ti e por mim também
(se tu me chegares a ler
se tu vieres a nascer)

de longe acenar-te-ei
no papel vestibular
do pai que te acontecer

Rui Ferreira Bastos
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30
Dez 10

PÁSSARO-LYRA

II

Abri o Azul e vi dois amantes de musgo abraçados. Esculpiam taças de leite coagulado por onde bebiam perfume

A minha insónia despe-se no meio do quarto e nua, friorenta, dança devagar o tango da luz

Lembro-me do cacto e da fonte. Da maneira como estas duas palavras -- uma no deserto, outra próximo de casa -- eram escritas: no caderno de marfim com um golpe de rins de caneta de tinta eterna

Pássaro-Lyra, Pássaro-Lyra, Pássaro-Lyra, Deserto Grande do Cacto, Água Grande da Fonte, Queda de Vinho na Escadaria, Princesa Blindada de Brandura, Flor-Floresta, Nave, País das Áleas, ó imagem entre todas querida!

Debaixo das tuas asas ao calor do sangue
aqueço o poema antes de o comer
pão de limo olhos de mel
até de manhã meu alimento

António Barahona
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