01
Jan 11

...

Ó túmulo, ó vagas, chamava afastada
do mar e da morte a minha frase.
Comparei-a a mais uma voz
no deserto, que clamava neguei-lhe:
estava somente na margem
da distância, denominava de longe
onda que me devora
o nome que me esvai, chamei gesta
ao gemido, dei então ao copista
a cor da opala do mar,
morri em efígie na terra, ao mar dei
a loquacidade de quem morre.

Fiama Hasse Pais Brandão
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O Portão das Colinas do Nada

autor: Fernando Cabrita (Olhão, 10.XII.1954)
título: O Portão das Colinas do Nada
subtítulo: (Poemas da Cidade de Londres)
edição: Câmara Municipal de Sintra
local: Sintra
ano: 1988
págs.: 69
dimensões: 21x14,8x0,4 cm. (brochado)
impressão: Gráfica Europam, Mem Martins
capa: Carlos António de Oliveira e Sousa
obs.: Prémio Oliva Guerra / 1987
publicado por RAA às 20:20 | comentar | favorito
01
Jan 11

NA SUAVE TREPIDAÇÃO DAS RUAS

Na suave trepidação das ruas
mansamente tocado pelo vento de Janeiro
penso que tudo vale mais do que qualquer palavra.
Vejo as portas, as árvores
os pequenos pubs londrinos
com os seus ocupantes de silêncio
que têm nos olhos miríades de fumo e de cerveja
e entendo então que nada há mais
cruel que as palavras ditas e ditas e ditas,
palavras que escondem a grande noite
ou o silencioso sol do meio-dia,
que mal desenham a crispação das tardes
e o absoluto clamor dos parques e dos riachos.
Deixo então que se afastem de mim
os pensamentos e os segredos
e na suave trepidação das ruas,
mansamente tocado pelo vento de Janeiro,
vou com a inocência e a liberdade de um animal
bravio e jovem
olhando as portas e as casas,
as escadas e as árvores,
sabendo apenas que cada passo é
a ponte entre o futuro e o passado,
na suave trepidação das ruas.

Fernando Cabrita
publicado por RAA às 19:09 | comentar | favorito