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Jan 11

DESCONCERTANTE

Há frescura nos contos infantis,
Há perfumes no ar, rosas primaveris
Nos jardins.
Mas, na Rua, há arcos de palhaça
Por onde passam galgos, -- belos cães do pólo;
O amor e a desgraça,
Mãos pedintes, as mães, com filhinhos ao colo!

Mas, como bola dentro de assobio,
Ou presos na amurada dum navio,
Há olhos na cadeia -- olhando às grades!

-- Porque deixaram livre o manequim
E me prenderam a mim?

Cá fora, os lenços vão molhados de saudades.

Afonso Duarte
publicado por RAA às 23:57 | comentar | favorito

...

Quando grisalha e velha e mais de sono cheia
Cabeceares à lareira, pega nestes versos
E lê-os devagar, e lembra os universos
Do teu olhar de outrora, tão profunda teia;

E quantos tanto amaram teu alegre encanto,
Como tua beleza em falso ou vero amor,
E um só foi quem amou de tua alma o ardor
E do teu rosto a mágoa do mutável pranto.

Curvada então ao lado das ardentes brasas
Murmura um pouco triste que o Amor se afastou.
Nos sobranceiros montes vagueante andou,
E seu rosto escondeu na multidão dos astros.

W. B. Yeats

(Jorge de Sena)
publicado por RAA às 16:59 | comentar | favorito

UN SECRET

Mon âme a son secret, ma vie a son mystère:
Un amour éternel en un moment conçu;
Le mal est sans espoir, aussi j'ai dû le taire,
Et celle qui l'a fait n'en a jamais rien su.

Hélas! j'aurai passé près d'elle inaperçu,
Toujours a ses côtés, et pourtant solitaire,
Et j'aurai jusqu'au bout fait mon temps sur la terre,
N'osant rien demander et n'ayant rien reçu.

Pour elle, quoique Dieu l'ait faite douce et tendre,
Elle ira son chemin, distraite, et sans entendre
Ce murmure d'amour élevé sur ses pas;

A l'austère devoir pieusement fidèle,
Elle dira, lisant ces verses tout remplis d'elle:
"Quelle est donc cette femme?" et ne comprendera pas.

Félix Arvers
publicado por RAA às 14:25 | comentar | favorito

PARA LER AOS NOVIÇOES

Deus não aparece no poema
apenas escutamos a sua voz de cinza
e assistimos sem compreender
a escuras perícias

A vida reclama inventários e detalhes
não a oiças
quando inutilmente perscruta as sequências
do seu trânsito

Só há um modo verdadeiro de rezar:
estende o teu corpo ao longo do barco
que desce silencioso o canal
e deixa que as folhas mortas do bosque
te cubram

José Tolentino Mendonça
publicado por RAA às 12:30 | comentar | favorito
13
Jan 11

«SÓ DOS TERRATENIENTES»

não tenho nenhuma observação a fazer sobre a vista da varanda.
nenhuma, a não ser o céu largo e iluminado dos subúrbios do rio de janeiro.
céu q se alonga ao longo do mundo inteiro.
não é de todo o mundo a terra q é redonda.

Chacal
publicado por RAA às 11:03 | comentar | favorito
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