14
Jan 11

...

Lixo: aparas de lápis, serradura, papéis
com borras de café, sangue num pano,
jornais amarelecidos, cinzas com cigarros.
E juntar a este lixo as palavras gastas,
os livros queimados, o gosto agora azedo
da bebida e o retrato da outra, preciosa
pedra de sempre mas agora: lixo.
E saber que revolver este lixo é estar
no caldeirão a misturar ouro e vulcões.
E amar este lixo, mesmo no ódio. Voltar
então às palavras mais simples. Deixar
o vento levantar a bruma da poeira
dos cavalos. Entrar nas águas
debaixo da varanda -- olhar o mar.

Eduardo Guerra Carneiro
publicado por RAA às 23:13 | comentar | favorito

Oriente de Mim

autor: Adalberto Alves (Lisboa, 18.VII.1939)
título: Oriente de Mim
editora: Editorial Teorema
local: Lisboa
ano: s.d.
págs.: 98
dimensões: 20,5x14x0,8 cm. (brochado)
capa: ilustração de Martins Pereira
composição: Interouro
impressão: Rolo & Filhos, Mafra
obs.: na folha de rosto, retrato do Autor por Luís Veiga Leitão
publicado por RAA às 14:12 | comentar | favorito
14
Jan 11

NARCISO ENTEDIADO

A flor da vida
É não ser só
É ter-se o sonho
De dois num só.

O mel da vida
É numa voz
O eco ouvir-se
De uma outra voz.

O mal da vida
-- O mal que é meu --
Filtrar o tédio
De eu ser só meu.

Affonso Ávila
publicado por RAA às 11:02 | comentar | favorito