18
Fev 11
18
Fev 11

Love's philosophy

The Fountains mingle with the river               Correm as fontes ao rio
And the rivers with the ocean,                      os rios correm ao mar;
The winds of heaven mix for ever                 num enlace fugidio
With a sweet emotion;                                 prendem-se as brisas no ar...
Nothing in the world is single,                      Nada no mundo é sòzinho:
All things by a law devine                             por sublime lei do Céu,
In one another's being mingle -                     tudo frui noutro carinho...
Why not I with thine?                                  Não hei-de alcançá-lo eu?

See the mountains kiss high heaven            Olha os montes adorando
And the waves clasp one another;              o vasto azul, olha as vagas
No sister-flower would be forgiven            uma a outra se osculando
If it disdain'd its brother:                            todas abraçando as fragas...
And the sunlight clasps the earth,               Vivos rútilos desejos,
And the moonbeams kiss the sea -            no sol ardente os verás:
What are all these kissings worth,              --Que me fazem tantos beijos,
If thou kiss not me?                                   se tu a mim mos não dás?

Shelley
(Luís Cardim)
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17
Fev 11

F. HÖLDERLIN

É de uma tal vaidade, o discurso da poesia.
Por vezes, até nem sinto que as botas que uso
não transportam já consigo o sentido da vida.
E quanto a isso, não há canções, poemas, que o contradigam.
Uma expressão sem rosto, uma frase sem sentido,
a que, a custo, já não se regressa nunca.
Fecha-se então o pensamento, como um pêndulo
à procura do suplício. Ou de uma lição
que não venha nos livros e que, resistindo
interiormente, sobre nós caia e perdure.
Lá fora, só o vento sopra: sôfrego e inseguro.
Fecham-se os olhos, sossobram os esforços -- mas,
na agitação do silêncio, procuram-se apenas os mais puros.

Fernando Guerreiro
publicado por RAA às 23:59 | comentar | favorito

...

Ai madre, ben vos digo:
mentiu-mh o meu amigo:
     sanhuda lh' and' eu.

Do que mh-ouve jurado,
pois mentiu per seu grado,
     sanhuda lh' and' eu.

Non foi u ir avia,
mais ben des aquel dia
     sanhuda lh' and' eu.

Non é de mi partido,
mais por que mh-á mentido,
     sanhuda lh' and' eu.

Pero Garcia Burgalês
publicado por RAA às 14:30 | comentar | ver comentários (3) | favorito
17
Fev 11

...

Às portas do céu
Um demo espiava.
Uma estrela se deu
Feita sacrifício.
Sobre ele lançou
Um rastro brilhante
De prata e de ouro,
Como um cavaleiro
Que ao galopar
O seu turbante
Viu se desatar
E para trás deixou
Um véu a pairar.

Ibn Sara

(Adalberto Alves)
publicado por RAA às 12:00 | comentar | ver comentários (4) | favorito
16
Fev 11

...

O poeta que em grã dor não teve parte
chora fingindo, e toca-nos tão fundo!
Quem sofre de verdade não tem arte
para a tristeza revelar ao mundo.

poema sânscrito anónimo

(Jorge de Sena)
publicado por RAA às 14:33 | comentar | favorito
16
Fev 11

...

É da condição dos seres imperfeitos aspirarem à perfeição.
publicado por RAA às 11:03 | comentar | ver comentários (5) | favorito
15
Fev 11

ADAGIO

As folhas d'oiro, uma a uma,
Vão os plátanos despindo;
Ouço-as na álea caindo
Numa cadência de espuma...

Mais uma, negra, se abate,
Como bacante já lassa:
Rolando quase me bate
Num agoiro de desgraça.

Erguem-se agora ligeiras,
Lá partem, rentes do chão,
Todas juntas em fileiras,
Numa brusca emigração.

Sobre as áleas alagadas
Parecem almas sem nome
Que leva pra além dum rio
Caronte de mãos geladas...

Dezembro abre com fome
A goela de vazio...

Alexandre d'Aragão
publicado por RAA às 23:45 | comentar | favorito

HOJE FARPADO

A pólvora etérea
na cinza das balas
a história dos homens
nos homens deitados
o tempo em espera
no beijo dos mortos
a história dos homens
nos homens sem corpo
e nós meu amor
em súbito alarme:

um guarda exterior
com olhos de arame.

Fernando Alvarenga
publicado por RAA às 14:20 | comentar | favorito
15
Fev 11

SAUDADE MINHA

Minha saudade as cousas transfigura
Num estranho delírio semelhante
Ao desse eterno cavaleiro-andante
Paladino do sonho e da loucura:

Minha saudade é fonte que murmura
E em seu cantar humilde e marulhante
Mata a sede que abrasa o caminhante
Só de o embalar na líquida ternura...

Minha saudade os mundos alumia,
Os mortos ressuscita e é um sol-nascente
Doirando ainda as trevas da agonia;

Minha saudade é a força misteriosa
Que torna cada cousa em mim presente
E a minha dor presente em cada cousa.

Anrique Paço d'Arcos
publicado por RAA às 12:17 | comentar | favorito
14
Fev 11
14
Fev 11

...

Korf inventou uma Arte da Piada
que só produz efeito horas depois.
Ouve-se aquilo com profundo tédio.

Mas, como se um rastilho ardera quieto,
acorda-se de noite, alegremente,
sorrindo-se feliz como um bebé de mama.

Christian Morgenstern

(Jorge de Sena)
publicado por RAA às 17:18 | comentar | favorito