07
Fev 11

ADAGIO CANTABILE

O cego deu à manivela
Da velha e triste pianola
Que era a alegria da vila:
Mas já ninguém vem à janela...
-- Pois vindo davam-lhe esmola
E ocultos podem ouvi-la.

Carlos Queirós
publicado por RAA às 23:44 | comentar | favorito

JUNGHÄNEL, 2000

Diferença nenhuma: «Christ lag
in Todes Banden». Ou
tão-só a certeza de não haver,
a esperar-nos, um pai abandonável,

mera carícia de pó
folheando o evangelho.

Manuel de Freitas
publicado por RAA às 19:48 | comentar | favorito

É BOA A GUERRA

Não chores, rapariga, é boa a guerra.
Lá porque o teu rapaz ergueu as mãos ao céu
E a galope o cavalo se perdeu,
Não chores, não.
É boa a guerra.

Tambores de regimento rufam roucos,
E esta gente sequiosa de lutar
Nasceu para a recruta e pra morrer.
A inexplicada glória os sobrevoa,
É grande o deus da guerra, e é seu reino
Um campo com milhares a apodrecer.

Não chores criancinha, é boa a guerra.
Porque o teu pai tombou na lama da trincheira,
Esfacelado o peito e já sem vida,
Não chores, não.
É boa a guerra.

Bandeiras crepitando esvoaçantes,
Águias douradas, rubras! Esta gente
Nasceu para a recruta e pra morrer.
Mostrai-lhe as eficácias do massacre,
Dizei-lhe da excelência de matar,
De um campo com milhares a apodrecer.

Mãe cujo amor é qual botão mesquinho
Ne esplêndida mortalha de teu filho,
Não chores, não.
É boa a guerra.

Stephen Crane
publicado por RAA às 14:22 | comentar | ver comentários (4) | favorito
07
Fev 11

SOIRS

Il y a de grands soirs où les villages meurent
Après que les pigeons sont rentrés se coucher.
Ils meurent, doucement, avec le bruit de l'heure
Et le cri bleu des hirondelles au clocher...
Alors, pour les veiller, des lumières s'allument,
Vieilles petites lumières de bonnes soeurs,
Et des lanternes passent, là-bas dans la brume...
Au loin le chemin gris chemine avec douceur...
Les fleurs dans les jardins se sont pelotonnées,
Pour écouter mourir leur village d'antan,
Car elles savent que c'est là qu'elles son nées...
Puis les lumières s'eteignent, cependant
Que les vieux murs habituels ont rendu l'âme,
Tout doux, tout bonnement, comme de vieilles femmes.

Henry Bataille
publicado por RAA às 12:30 | comentar | favorito