09
Fev 11

O CÃO É O SEU PRÓPRIO PASTOR

O cão é o seu próprio pastor,
disse-te um dia, cansado de tantas nuvens
sorumbáticas. Um pedaço de broa bem mordida
cresce nos dedos, nesses férteis veios de lágrimas
e pomares.
Grinaldas foram as tripas do cão
antes de as nozes da ceia terem sido
uma madeira patética, leite de cabra a arder.

Não sei se a boca é inválida
ou se um linho de cerejas mutilou os dedos
da tecedeira.
Também o madeiro ficou carbonizado
dos joelhos em febre à fronte.
O fim lógico e justo das robínias
e de todos os materiais de cheiro e mel
é uma surdina,
pedra que bate em pedra e rola
e canta e reza trigos bonitos.

O cão castanho, rasgador de céus
é o seu próprio pastor.

Casel -- 1 de Dezembro de 1990


Fernando  Grade
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SOL DE JUNHO

O sol de Junho irradia,
sem se extinguir a moinha
a chover-nos dentro.
Somos atravessados pela melancolia,
choro intenso de lágrimas secas.
Trazemos em nós o próprio feto,
que continuamente violentamos.
VI-2001
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09
Fev 11

CÃTIGUA fUA HA DITA SEÑORA.

   O cuydado muy fentydo
domde morte fe mordena
he caueis de ter marido,
& eu fempre mynha pena.

   E naquyfto contemprando
vay creçendo o defcomforto,
que defmayo em cuydando,
& cayo mil vezes morto.
E fora de meu fentido
com tal morte coal fordena
pera mym veru' marydo,
fem vos verdes mynha pena.

Nuno Pereira
publicado por RAA às 14:33 | comentar | favorito