O CÃO É O SEU PRÓPRIO PASTOR
disse-te um dia, cansado de tantas nuvens
sorumbáticas. Um pedaço de broa bem mordida
cresce nos dedos, nesses férteis veios de lágrimas
e pomares.
Grinaldas foram as tripas do cão
antes de as nozes da ceia terem sido
uma madeira patética, leite de cabra a arder.
Não sei se a boca é inválida
ou se um linho de cerejas mutilou os dedos
da tecedeira.
Também o madeiro ficou carbonizado
dos joelhos em febre à fronte.
O fim lógico e justo das robínias
e de todos os materiais de cheiro e mel
é uma surdina,
pedra que bate em pedra e rola
e canta e reza trigos bonitos.
O cão castanho, rasgador de céus
é o seu próprio pastor.
Casel -- 1 de Dezembro de 1990