17
Fev 11

F. HÖLDERLIN

É de uma tal vaidade, o discurso da poesia.
Por vezes, até nem sinto que as botas que uso
não transportam já consigo o sentido da vida.
E quanto a isso, não há canções, poemas, que o contradigam.
Uma expressão sem rosto, uma frase sem sentido,
a que, a custo, já não se regressa nunca.
Fecha-se então o pensamento, como um pêndulo
à procura do suplício. Ou de uma lição
que não venha nos livros e que, resistindo
interiormente, sobre nós caia e perdure.
Lá fora, só o vento sopra: sôfrego e inseguro.
Fecham-se os olhos, sossobram os esforços -- mas,
na agitação do silêncio, procuram-se apenas os mais puros.

Fernando Guerreiro
publicado por RAA às 23:59 | comentar | favorito

...

Ai madre, ben vos digo:
mentiu-mh o meu amigo:
     sanhuda lh' and' eu.

Do que mh-ouve jurado,
pois mentiu per seu grado,
     sanhuda lh' and' eu.

Non foi u ir avia,
mais ben des aquel dia
     sanhuda lh' and' eu.

Non é de mi partido,
mais por que mh-á mentido,
     sanhuda lh' and' eu.

Pero Garcia Burgalês
publicado por RAA às 14:30 | comentar | ver comentários (3) | favorito
17
Fev 11

...

Às portas do céu
Um demo espiava.
Uma estrela se deu
Feita sacrifício.
Sobre ele lançou
Um rastro brilhante
De prata e de ouro,
Como um cavaleiro
Que ao galopar
O seu turbante
Viu se desatar
E para trás deixou
Um véu a pairar.

Ibn Sara

(Adalberto Alves)
publicado por RAA às 12:00 | comentar | ver comentários (4) | favorito