05
Mar 11

GAME OVER

O corpo.
Uma duração precisa,
que se despede informalmente
nos beijos que já não dá.
Ó meu bom Jesus de Braga,
eu não saberia como ficar,
remendando os dias
com o apressado amor das coisas.

Tudo finalmente finda.
Na calamidade das mãos,
um cigarro que arde impróprio
sobre as manhãs exaustas.
E ninguém me quis,
pelo menos.

De que vos falarei,
com palavras póstumas
onde o rancor se apaga?
Era uma vez


aquele jogo triste que não sei jogar.

Manuel de Freitas
publicado por RAA às 21:30 | comentar | favorito
05
Mar 11

SUPERMERCADO

Corre perigo a minha qualidade de vida
Pensei nisso maduramente no supermercado hoje
Sinto que a qualidade não é a mesma e foge
E que pouco falta para que fique perdida

Lembro-me do rio que passa na minha terra
Porque comparo a esta enorme porcaria
Em que se transformou a antiga alegria
De o atravessar num tempo sem paz nem guerra

E quando as crianças empurram os carrinhos
Com uma devoção espantosa pelos corredores
Eu recordo bem com todos os pormenores
As demoradas procissões com muitos anjinhos

E não havia iogurtes nem sequer supermercados
Nem demonstradoras empenhadas em demonstrar
Não os pontos fortes de quem lhes vai pagar
Mas que estão tão cansadas como nós cansados

Se a vida fosse lógica deveria muito tempo sobrar
Quando se fazem estas refeições congeladas
Porque o tempo que se ganha sendo preparadas
Deveria ser para parar um pouco e para pensar

José do  Carmo Francisco
publicado por RAA às 15:01 | comentar | favorito