10
Mar 11

SONETO

Tocado de Má-Hora, ao lívido luar,
erro, sinistramente, porta em porta;
levo a alma nos braços, quase morta
e não sei onde a hei-de agasalhar...

Talvez que lá em baixo, junto ao mar,
Na ressaca das ondas e da espuma,
a possa descansar... E, uma a uma,
as passadas da Morte, dou, p´ra o mar!...

Mas as águas são torvas e spectrais,
Sinistras de insondável e maldito
-- no sentido pior do que está escrito! --

E novamente vou, de porta em porta,
em trôpegos passos desiguais,
levando no regaço a Alma-morta...

Augusto Ferreira Gomes
publicado por RAA às 23:59 | comentar | favorito

A TUA SOMBRA

A tua sombra mística e serena
É um refrigério ideal que me regala,
Quando a sombra do mundo me condena,
A tua sombra, Mãe, me absorve e embala.

A tempestade ulula? A Dor estala?
A tua sombra é lindo véu que acena.
-- Sombra que reza, que tem voz, que fala!...
A sombra do teu vulto de açucena!

Sinto-a pairar, em forma de asa aberta,
Por sobre o pó da minha estrada incerta,
Amenizando as pedras e os abrolhos.

Beijo-a como quem beija o azul dos céus,
Amo-a como quem ama a luz de Deus,
Infinita doçura dos meus olhos!

Moreira das Neves 
publicado por RAA às 14:54 | comentar | favorito
10
Mar 11

...

Heureux qui, comme Ulysse, a fait un beau voyage,
Ou comme cestui-là qui conquit la Toison,
Et puis s'en retourné, plein d'usage et raison,
Vivre entre ses parents le reste de son âge!

Quand reverrai-je, hélas! de mon petit village
Fumer la cheminée, et en quelle saison
Reverrais-je le clos de ma pauvre maison,
Qui m'est une province et beaucoup davantage?

Plus me plaît le séjour qu'ont bâti mes aïeux,
Que des palais romains le front audacieux;
Plus que le marble dur me plaît l'ardoise fine,

Plus mon Loire gaulois que le Tibre latin,
Plus mon petit Liré que le Mont-Palatin,
Et plus que l'air marin la doceur angevine.

Joachim du Bellay
publicado por RAA às 12:12 | comentar | favorito