06
Abr 11
06
Abr 11

...

Os grandes livros são aqueles que nos forçam a escrever.
publicado por RAA às 11:11 | comentar | favorito
05
Abr 11

VAI E VEM

I

É de todos sabido que
o 100 tanto desce como sobe
-- e fiquemo-nos
pelo estreito declive que vai
da praça das Flores ao Príncipe Real.

Vi hoje um filme sobre isso
-- português, embora não muito suave,
e avesso, como pôde, aos brandos
costumes da morte. Detive-me, pouco
depois, sob a frondosa árvore da noite.
À espera, claro, de não ver ninguém.

Manuel de Freitas
publicado por RAA às 23:06 | comentar | favorito

ASPIRAÇÕES

Lábios que imploro em vão, lábios que eu idealizo!
Ouvir-vos, mesmo ao longe, alegra-me e distrai-me.
Guarda-jóias que fecha e abre num sorriso,
          Lábios -- beijai-me!

Braços de neve? Não! -- Serpentes de delícias,
Quando o prazer vos torça e a febre-amor vos queime!
Cadeia de roubar a vida entre carícias,
          Braços -- prendei-me!

Olhos excepcionais! estranhos sóis polares!
Se a vossa luz me afasta, o vosso abismo atrai-me!
Grande como dois céus, fundos como dois mares...
          Olhos -- matai-me!

Queirós Ribeiro
publicado por RAA às 17:04 | comentar | favorito

FINAL

Não queiras ser mais vivo do que és morto.
As sempre-vivas morrem diàriamente
Pisadas por teus pés enquanto nasces.
Não queiras ser mais morto do que és vivo.
As mortas-vivas rompem as mortalhas
(Seus cabelos azuis, como arrastam o vento!)
Para amassar o pão da própria carne.
Ó vivo-morto que escarneces as paredes
Queres ouvir e falas.
Queres morrer e dormes.
Há muito que as espadas
Te atravessando lentamente lado a lado
Em ti caminham sua dor. Sorris.
Queres morrer e morres.

Augusto de Campos
publicado por RAA às 14:27 | comentar | favorito
05
Abr 11

A ARANHA

Uma pequenina mão negra e peluda crispada em cabelos.
Toda a noite, em nome da lua, apõe os seus selos.

Jules Renard

(Jorge de Sena)
publicado por RAA às 11:20 | comentar | favorito
04
Abr 11

...

Ia pela ponte de Waterloo
passou um milénio sobre o teatro
tudo era luz.
Parámos na fábrica dos azulejos os fumos
cobrem as ruas vêm dos esgotos movem-se
«e também há alguns autênticos
verdadeiros americanos, são russos.»

Uma rapariga tem sempre a sua música
leva o dinheiro apertado num saco bordado
o retrato da amada na outra mão.
Podia muito bem ter pintado o rei nesse outono
não havia heróis nem escudos
os temas estavam tão batidos aproveita-se o
contrabaixo um negro igual a todos vai
pelas ruas sem nenhum proveito
já nem sequer ouvia a voz dos dedos.

Acabei de ler algumas frases
do meu caderno. O Auden do trompete
assobiava. Tinha um sweater de lã
muita tosse. Um olhar de alegria seguia de
novo o novo tema.

João Miguel Fernandes Jorge
publicado por RAA às 22:46 | comentar | ver comentários (2) | favorito

L'ALBATROS

Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur des gouffres amers.

À peine les ont-ils déposées sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté deux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau,qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!

Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant lémpêchent de marcher.

Baudelaire
publicado por RAA às 15:01 | comentar | favorito
04
Abr 11

OLHOS ELÉTRICOS

ponta de pedra aguda
faces rasgadas, bétulas amargas

você me diz psiu, violência
no jeito de piscar as pálpebras

pássaros tristes entre cães aprisionados
enfim vivemos num cenário

onde crianças com olhos elétricos
vasculham os bolsos de lady solidão

musas sádicas me acariciam
com unhas de gilete

lábios em carne-viva, mil beijos
de medusa -- strippers que após a roupa
arrancam a própria pele

e você vira as costas, arrasta-se
como um mamute pelo corredor

arremessando um "boa noite"
que me acerta em cheio na testa

Ademir Assunção
publicado por RAA às 11:21 | comentar | favorito
03
Abr 11
03
Abr 11

LESLIE -- S.O.S.!

Peço aos teus lábios carnudos que me telefonem.
publicado por RAA às 16:23 | comentar | favorito
02
Abr 11
02
Abr 11

PENUMBRA FACETADA

arcadas louras
no espanto das
praias
que deusas inclinadas
no flanco da noite
incendiada
ofereciam às luas
no entontecimento
dos lábios

só o esquecimento
nos lagos

candelabros na loucura
de pianos
ansiosamente raros
nos olhos facetados
de penumbra

só o esquecimento
no espelho inicial

esquinas dormentes
nos beijos
que espadas
enviaram ao poente
levemente saqueado
de brisa
precisamente como
duas aves
no mastro principal
do navio

Maria Teresa Horta
publicado por RAA às 19:51 | comentar | ver comentários (2) | favorito