06
Mai 11

SEGREDO

Descansa. Nem tu sabes, nem eu digo!
A lua, que baixou do céu ao lago,
Não adivinha se a deixei... se a trago
Dentro da alma, como um sonho antigo.

O néctar, que eu procuro e que maldigo,
O vinho, que abençoo a cada trago,
Este veneno com que me embriago...
É mistério dum só: irá comigo!

Porque suplicas que me dê, que fale?
-- Porque não sabes quanto a noite vale
E não calculas como é bom assim!

Bem sinto a dor que o teu olhar goteja;
Mas o Princípio, por melhor que seja,
É pai dum monstro, que se chama Fim!

Queirós Ribeiro
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06
Mai 11

OS OLHOS SECOS

Não chego a ser um gemido entre o choro geral,
olhos enxutos, mãos no bolso, a displicência.

Vejo o baile nas janelas acesas.
Quanta alegria nos homens sem memória!

Outras janelas, o caixão, as velas no silêncio.
As cortinas como almas libertadas,
a lágrima da mãe no lenço preto.
Os meus passos doem, cantando na calçada.
As estrelas quietas ruminando as horas,
mas meus olhos aflitos e ninguém percebe.

O nó na garganta, o grito parado,
a brasa na cinza...

Bueno de Rivera
publicado por RAA às 11:27 | comentar | favorito