20
Mai 11

...

É um mal a morte,
E os deuses assim pensam:
Ou já estariam mortos,
Há muito, muito tempo...

Safo

(Jorge de Sena)
publicado por RAA às 18:11 | comentar | ver comentários (2) | favorito

MOMENTO

Nos olhos dos fuzilados,
dos sete corpos tombados
de borco, no chão impuro,
eis!
...sete mães soluçando...

Nas faces dos fuzilados,
nas sete faces torcidas
de espanto ainda, e receio,
...sete noivas implorando...

E do ventre de além-mundo,
sete crianças gritando
na boca dos fuzilados...

sete crianças gritando
ecos de dor e renúncia
pela vida que não veio...

Na boca dos fuzilados
vermelha de baba e sangue,
...sete crianças gritando!

Alda Lara
publicado por RAA às 17:14 | comentar | favorito
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AUSÊNCIA

Desde que, por não te ver,
Vejo em tudo... noite escura,
Resta-me só a ventura
De duvidar em dizer:

-- Qual mais custa: se a tristeza
Dum adeus amargurado,
Se a dura e firme certeza
De estar penando a teu lado.

Manuel da Silva Gaio
publicado por RAA às 16:13 | comentar | favorito

SONETO QUASE MARÍTIMO

Nos ares formas de longínquo porto
E a precária presença do afogado,
Serpenteando pelo chão molhado
Constantes de agonia e desconforto.

Do ponteiro a uma flor passo absorto,
Punhos perfuram gritos no telhado,
Na moldura o retrato inacabado
Espera a fuga de um amigo morto.

Os últimos passantes são as almas
Dos marinheiros que, em ansiedade,
Procuram na viela a rua impura.

Que importam, na memória, noites calmas,
Se o mar está presente na cidade
E se eu já estou perdido em Singapura.

Carlos Moreira
publicado por RAA às 15:28 | comentar | favorito

O CORVO

-- Quê? quê? quê?...
-- Nada.

Jules Renard
(Jorge de Sena)
publicado por RAA às 14:36 | comentar | favorito
20
Mai 11

MA SEULE AMOUR

Ma seule amour, ma joie et ma Maîtresse,
Puisqu'il me faut loin de vous demeurer,
Je n'ai plus rien, à me réconforter,
Qu'un souvenir pour retenir liesse.

En allégeant par Espoir ma détresse,
Me conviendra le temps ainsi passer,
Ma seule amour, ma joie et ma Maîtresse,
Puisqu'il me faut loin de vous demeurer.

Car mon coeur las, bien garni de tristesse,
S'en est voulu avecques vous aller,
Et ne pourrai jamais le recouvrer
Jusques verrai votre belle jeunesse,
Ma seule amour, ma joie et ma Maîtresse.

Charles d'Orléans
publicado por RAA às 11:46 | comentar | favorito