POÉTICA
1
Que é a Poesia?
uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados.
2
Que é o Poeta?
um homem
que trabalha o poema
com o suor do seu rosto.
Um homem
que tem fome
como qualquer outro
homem.
Cassiano Ricardo
1
Que é a Poesia?
uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados.
2
Que é o Poeta?
um homem
que trabalha o poema
com o suor do seu rosto.
Um homem
que tem fome
como qualquer outro
homem.
Cassiano Ricardo
Ni las tercas ruinas ni el gastado
esplendor, ni la púrpura o el mármol,
herencia fastidiosa de los siglos,
han de permanecer en la memoria.
La roja y fresca invitación de un puesto
de sandías, alguna fuente indigna
de la inmortalidad da las postales,
la matinal sonrisa de la luna,
los libros que vendían en un puente
custodiado por ángeles, los sabios
labios de aquella prostituta
muy cerca de Via Venetto, el mendigo
que nos miró con el desdén de un príncipe...
Tal es, oh Roma, el don que me has dejado.
José Luis García Matín
Herdei uma floresta sombria
onde raramente ponho os pés. Mas
lá chegará o dia em que mortos e
vivos mudarão de lugar. A floresta
começará então a mover-se. Mas
ainda nos resta alguma esperança.
Apesar de muito polícia se
esforçar, os piores crimes ficarão
por desvendar. Do mesmo modo
há sempre nas nossas vidas um
grande amor por revelar. Eu herdei
uma floresta sombria, mas hoje
passeio numa outra, plena de
claridade. Tudo o que está vivo e
canta, serpenteia, acena, rasteja!
É primavera, e o ar que se respira é
fortíssimo. Tenho um diploma da
universidade do olvido, e as mãos
tão vazias como a camisa pendurada
na corda de secar roupa.
Tomas Tranströmer
(Alexandre Pastor)
Ó noite de festa que de novo
Em minha vida aconteceste
Revivo a memória eterna que em ti existe
E outra vez amável me trouxeste.
E, no entanto, a gente que te olhou
Só viu no teu pálido crescente
Um ser emagrecido e triste...
Ibn Harun
(Adalberto Alves)
É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
a trazer-me da água a infância ressurecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
mais da terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
David Mourão-Ferreira
No carro ao
lado alguém desconhecido
exibe o seu Record no tablier
Como eu partirá quando o apito
do incorruptível árbitro o expulsar
de vez
Gastão Cruz
O estilo como exílio no estado puro. Pêndulo pessoal entre o que vem do alto e o que vem do fundo.
Casimiro de Brito
Quando uma nuvem nômada destila
gotas, roçando a crista azul da serra,
umas brincam na relva; outras, tranqüilas,
serenamente entranham-se na terra.
E a gente fala da gotinha que erra
de folha em folha e, trêmula, cintila,
mas nem se lembra da que o solo encerra,
da que ficou no coração da argila!
Quanta gente que zomba do desgosto
mudo, da angústia que não molha o rosto
e que não tomba, em gotas, pelo chão,
havia de chorar, se adivinhasse
que há lágrimas que correm pela face
e outras que rolam pelo coração!
Guilherme de Almeida
Melhor é uma poesia por antiga?
Então é sempre má, se for moderna?
Só o amador conhece a luta eterna:
e o crítico que espere o que ele diga.
Kalidasa
(Jorge de Sena)