Marília, nos teus olhos buliçosos
Os Amores gentis seu facho acendem;
A teus lábios, voando, os ares fendem
Terníssimos desejos sequiosos.
Teus cabelos subtis e luminosos
Mil vistas cegam, mil vontades prendem;
E em arte aos de Minerva se não rendem
Teus alvos, curtos dedos melindrosos.
Reside em teus costumes a candura,
Mora a firmeza no teu peito amante,
A razão com teus risos se mistura.
És dos Céus o composto mais brilhante;
Deram-se as mãos Virtude e Formosura,
Para criar tua alma e teu semblante.
Bocage
(Ao Amílcar Cabral)
Um dia, misteriosamente,
A Poesia perdeu-se.
E muita gente
Andou por montes e vales
Buscando-a raivosamente.
Encostas inacessíveis
Foram galgadas em vão,
Gritos e mãos para os céus
Lágrimas, sangue e suor...
E a própria vida
Foi também oferecida...
Mas a Poesia estava
Irremediavelmente perdida.
Os homens gritaram raivas:
-- Não sabiam que fazer...
Mas, de cada peito contrito,
De cada lágrima ou grito,
De cada gesto de dor,
De todo o sangue ou suor
Discretamente nascia
Uma nova Poesia.
Aguinaldo França