...
bates à porta
mil vezes bates a essa porta com a voz em sangue
enquanto te encandeia a luz feroz da inocência
a iluminar-te os dedos
contra a grande incógnita da porta
o que balbucias não é ainda cântico
mas a nua lâmina onde aguardas
as primeiras estrofes ainda sem palavras
o balanço dos gonzos
o entreabrir dos lábios
o negro puro
as pupilas enormes
o remoínho ubíquo na pele e na escuridão devassada
a interrogação que lateja
quando a porta se abre
é que já pouco importa
a eternidade ficou toda e para sempre naquela pulsação
desordenada
Carlos Nogueira Fino