...

bates à porta

mil vezes bates a essa porta com a voz em sangue

enquanto te encandeia a luz feroz da inocência

a iluminar-te os dedos

contra a grande incógnita da porta

 

o que balbucias não é ainda cântico

mas a nua lâmina onde aguardas

as primeiras estrofes ainda sem palavras

 

o balanço dos gonzos

o entreabrir dos lábios

o negro puro

as pupilas enormes

o remoínho ubíquo na pele e na escuridão devassada

a interrogação que lateja

 

quando a porta se abre

é que já pouco importa

a eternidade ficou toda e para sempre naquela pulsação

desordenada

 

 

Carlos Nogueira Fino

publicado por RAA às 23:21 | comentar | favorito