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Dez 11

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[...] O poeta aparece -- quando aparece -- aos olhos da comunidade enquanto o sem abrigo da escrita. E, pior ainda, o sem abrigo da própria vida e do próprio senso, pois que os dias não se compadecem dessa miséria adocicada que são os poemas. Entre proscrita pela cidade e insubordinada por natureza, o lugar da poesia é nenhum lugar. [...]

 

Paulo José Miranda

publicado por RAA às 16:09 | comentar | favorito
13
Dez 11

O ENTERRO DA CIGARRA

As formigas levavam-na... Chovia...

Era o fim... Triste outono fumarento!

Perto, uma fonte, um suave movimento,

cantigas de água trêmula carpia.

 

Quando eu a conheci, ela trazia

na voz um triste e doloroso acento.

Era a cigarra de maior talento,

mais cantadeira desta freguesia.

 

Passa o cortejo entre as árvores amigas...

Que tristeza nas folhas... Que tristeza!

Que alegria nos olhos das formigas!...

 

Pobre cigarra! Quando te levavam,

enquanto te chorava a natureza,

tuas irmãs e tua mãe cantavam...

 

Olegário Mariano

publicado por RAA às 14:42 | comentar | favorito