SONETO
Retrato da beleza nova e pura
Que com divina mão, divino engenho,
Amor retratou na alma, onde vos tenho
Das injúrias do tempo mais segura:
Não mostreis aspereza em tal brandura,
Por vos vingar de mim, vendo que venho
A tanta confiança que detenho
Os olhos em tamanha formosura!
O resplendor do Céu, sem dar mais pena
A quem olha seus olhos em direito,
A vista só por breve espaço assombra...
Mas vossa luz mais clara, mais serena,
Juntamente me cega e abrasa o peito:
Vede o Sol que fará, de que sois sombra!
Diogo Bernardes