de QUARTAS MORADAS

O múltiplo sentido das permutações

do tempo que o poema permite

assombra. Uma sequência de imagens

simples, e finalmente convencionais,

a rápida sucessão das unidades dinâmicas do verbo,

combina as três perspectivas

 

que os filósofos dizem do eterno, do instante, e

do perene. A terra mesma se transforma,

a sombra das nuvens ao voar sobre as casas

dá repouso e abrigo à obra das nossas mãos.

Passam os anos como os dias, o dia de agora

é inteiro e completo como outrora.

 

Lendo, já sei, talvez nada aconteça:

vento nas folhas, água, uma estrela que cai.

Comendo a sopa quente diante da tv

a ordem da história e da sociedade não está

prevista no menu. Ainda assim são estas imagens voláteis

a razão do poema, enquanto dura o sol.

 

António Franco Alexandre

publicado por RAA às 14:27 | comentar | favorito