30
Jan 12

SONETO DE SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

 

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama.

 

De repente, não mais que de repente

Fez-se triste o que se fez amante

E de sòzinho o que se fez contente.

 

Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente.

 

Vinicius de Moraes

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30
Jan 12

...

Por uma cona assim eu perco o tino

e tudo o mais desamo que não faça

como rata em soneto de Aretino:

a um caralho dar frequente caça

 

porque essa cona tem da melhor raça

a traça que se diz «donaire fino»

se rosto fora ela e não conaça

onde o tesão divino toca o sino

 

com uma cona assim aquel'menino

Cupido troca as setas pela maça

martela meus colhões num desatino

que do Rossio ecoa até à Graça

 

ela é a melhor rata que dá caça

a este meu javardo de inquilino

 

Lisboa

28-XII-81

 

Fernando Assis Pacheco

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