HOMO
Penso. Verbo, sou uma voz sonora...
Abalo os mundos, pelo céu alastro...
Asa e fogo. Crepito e subo. Um astro
A arder, errante, pela noite fora.
Transcendo o infinito. Zoroastro,
Jesus ou Buda a procurar a aurora
Do dia eterno, enquanto a dor clamora:
-- «Deus passou por aqui: segue-lhe o rastro...»
O soluço imortal! O grito amargo
Vare embora os abismos, não me assombra
E aremesso-me além! mais alto! e ao largo!
E Deus? Como atingi-lo? Dilacero
A sombra onde se oculta e -- ó desespero,
Ó voo inútil -- não se acaba a sombra...
Cândido Guerreiro