A ROSA IRREVELADA
Correi o mundo e procurai palavras novas para um poema.
Dos oceanos trazei nomes de peixes e remotas ilhas,
tranças de virgens, seios afogados,
mas
antes de tudo palavras para um poema.
Caminhai nas trevas em busca de uma rosa.
Colhei nos cardos a flor menosprezada.
Buscai no mar os líquenes, as esponjas,
trazei convosco pérolas,
peixes negros e plantas submarinas.
Trazei a náufraga de olhos devorados
por gaivotas. A náufraga de seios como luas
entre ciprestes de algas. A náufraga
de coxas como praias
onde o desejo espuma e desfalece.
Não procureis anelos e ternura
nem um pássaro de canto engaiolado.
Quero-vos noite escura, corpo escuro
de mulher em silêncio, rosa inviolável.
Trazei da noite palavras para um poema.
A irrevelada morte para um poema.
Domingos Carvalho da Silva