03
Jul 12

TUDO

Um poema

quase sem palavras

Um esquema

de indefenidos traços

O ecoar de um som

talvez nunca vibrado.

 

Um retrato

feito com o nada disto,

com tudo isto.

 

Saul Dias

publicado por RAA às 16:55 | comentar | favorito
03
Jul 12

BERLIOZ

I

 

É assim que me vejo: cabeça pousada

nos seus joelhos, as mãos esquecidas

no sossego branco das suas mãos,

numa adoração sem tormento

que põe nos olhos o fulgor

que os livros e os nomes não dizem.

É assim que estou: com um único endereço,

o da saudade que o seu rosto

deixou nos meus dedos trémulos e mansos.

Não irei visitá-la a Lyon por temer importuná-la,

por não querer fazer da minha presença

um fardo, uma doença, um surdo incómodo.

Adorá-la-ei à distância, como se adoram

os tesouros intocáveis da abóbada dos céus.

 

José Jorge Letria

publicado por RAA às 01:14 | comentar | favorito (1)