A UM PIRILAMPO
A chuva não apaga o teu fulgor,
o vento aumenta o teu ardor.
Porque não voas para o céu distante
e és, ao luar, um estrela cintilante?
Li Bai
(António Graça de Abreu)
A chuva não apaga o teu fulgor,
o vento aumenta o teu ardor.
Porque não voas para o céu distante
e és, ao luar, um estrela cintilante?
Li Bai
(António Graça de Abreu)
NEM O MISTERIO DOS RIOS SE RENOVANDO,
NEM LA TERRA NINA NASCENDO A CADA MOMENTO NO PRINCIPIO DO MUNDO DA [AMAZONIA,
NEM O PITORESCO DOS LIRICOS NAVIOS ATRAZADOS,
NEM A FLORESTA DE TODAS AS ALUCINAÇÕES,
NEM O PAGÉ, O BOTO, A COBRA GRANDE,
NEM MESMO OS CABELOS DA ULTIMA YARA, DE OCULOS AZUES, VOGANDO NO RIO [DE MISTERIO EM LANCHA-AUTOMOVEL,
TÃO POUCO EL DOLOR E LA SANGRE DE LOS INDIOS DE RIVERA,
DOS CEARENCES DE FERREIRA DE CASTRO,
NENHUM MOTIVO ETERNO NA MINHA CANTIGA DO AMAZONAS.
APENAS O LOUVOR DO AMIGO:
O CIVILIZADO QUE PAROU NA SELVA,
FILHO DAS GLORIAS DUMA RAÇA FORTE,
MÃOS CHEIAS DE CULTURA E DE BOM GOSTO,
AQUELE PARA QUEM A HUMANIDADE NÃO É UMA PALAVRA VÃ,
GRANDE DA BONDADE,
PORTUGUEZ!
A CERTEZA DE PODER DIZER NA HORA DA MAIS DENSA ANGUSTIA:
EMIDIO VAZ D'OLIVEIRA, AMIGO,
AMIGO!
Jorge Amado
Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar seu ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...
Camilo Pessanha
Num veleiro chegou aquele dia
Do teu adeus e lágrimas no cais
De há muitos anos: Sim, há muitos mais,
-- Quando, talvez, nem mesmo cais havia...
Tu eras minha, lembras-te? e chovia;
Mas não em nós: somente sobre o arrais
De oleado vestido... vendavais
Uma aragem do norte prometia.
Que nuvem tão cerrada de gaivotas
Tanto tempo de ti me separou!
Que alegria que foi as velas rotas
Quando perto do porto a nau parou!
Que estranhas e fantásticas derrotas
Alguém, batendo à porta, malogrou!
Carlos Queirós
Who is ever quite without his landscape,
The straggling village street, the house in trees,
All near the church? Or else, the gloomy town-house,
The one with the Corinthian pillars, or
The tiny workmanlike flat, in any case
A home, a centre where the three or four things
That happen to a man do happen?
Who cannot draw the map of his life, shade in
The country station where he meets his loves
And says good-bye, continually, mark the spot
Where the body of his happiness was first discovered?
An unknown tramp? A magnate? An enigma always,
With a well-buried past: and when the truth,
The truth about our hapiness comes out,
How much it owed to blakmail and philandering.
What follows is habitual. Al goes to plan:
The feud between the local common sense
And intuition, that exasperating amateur
Who's always on the spot by chance before us;
All goes to plan, both lying and confession,
Down to the thrilling final chase, the kill.
Yet, on the last page, a lingering doubt:
The verdict, was it just? The judge's nerves,
That clue, that protestation from the gallows,
And our own smile... why, yes...
But time is always guilty. Someone must pay for
Our loss of happiness, our happiness itself.
W. H. Auden
não conheço maior ficção que a vida
e mesmo quando ela acaba, continuamos a ficcionar:
ficcionámos tanto desde a invenção da escrita, que criámos
inúmeros deuses à medida das posses de cada um.
adoro sobretudo o elefante: garante-me paz, protecção e
memória de cemitério. um deus só, sabe-me a pouco e torna-se
demasiado monótono, monogâmico, monocórdico, chato pronto
-- daí dizer-se religião monoteísta, além domoneyenvolvido,
claro, acresce essa carga fascista.
Dinis H. G. Nunes
Nos rumos perdidos dos ventos trocados
Todos os rumos,
Nos fumos das piras dos mortos cremados
Todos os fumos,
de todas as piras...
Nas iras dos mares
Que beberam sangue
Todas as iras...
Na ânsia enlutada de todos os lares
Vazios de esperança
Todas as ânsias
De todos os lares...
Nos sexos sangrentos das virgens violadas
Os farrapos
a sangrar
De todos os sonhos que homens sonharam
E homens violaram...
Em todas as dores dos vivos da terra
todas as dores dos mortos da guerra...
E os rumos perdidos
e os corpos ardidos,
e as iras inúteis,
e as ânsias caladas,
E os sonhos, sujos como vidas de virgens violadas
E todas as dores
de todos os mortos que a guerra matou,
e todos os lutos
de todos os vivos
que a guerra enlutou,
Perguntam,
perguntam,
perguntam
a todos os ventos
a todos os mares
às roupas de luto de todos os lares,
Se valeu a pena...
...Os mortos perguntam...
Mas os ventos trocam-se,
o mar não serena
as viúvas continuam a chorar,
e os mortos não páram de perguntar
se valeu a pena...
...Mas a esperança é longa
e bela de agarrar no fundo dos martírios...
Os mortos perguntam,
os mortos protestam...
...Irmãos, os braços são magros,
mas longos,
Longos da ânsia de querer...
...A pergunta é grande e a força é pequena,
mas nós só podemos, Irmãos, responder,
Se valeu a pena...
António Neto
Perdóname labio porque no te pertenezco,
esta plegaria la dicta su lugar hueco.
Mis manos me llevan a sitios prohibidos,
enredando las sábanas, pensándote a solas
como un perro lazarillo bien adiestrado.
Porque es tan casto este ardor
que mi boca peca de ser aún doncella
y llaga mi lengua cada vez que te besa.
Ah, la hiel de tu silencio distante e indefinido
me ha convertido en una virgen impura.
Cecilia Quílez