ANUNCIAÇÃO DA PRIMAVERA, 2
Não sei de onde vem esta bruma,
se dos meus olhos, se
do rio. Um sol frouxo, próprio
das manhãs de domingo, escurecia
o vermelho, o amarelo das casas.
Dentro de mim, a musical
floração das cerejeiras havia começado.
Noutro lugar, noutro dia.
E de repente começou a cantar
um pássaro inesperado, um ramo
que não havia, no céu tranquilo
onde a manhã total principia.
Foz do Douro, 20.3.96
Eugénio de Andrade