14
Dez 12

CANÇÃO DO LAGO SECANDO

Pela noite da minha trágica aventura,

Meu sofrimento é o achado que afago,

Se acordado, sofrendo,

E se a dormir, sonhando

Que sou lago.

 

Adeus, ó canas, cá me vou secando!

À míngua de nascente eu parto evaporado

Sem me ver partir!

 

Ainda se os que passam pudessem beber-me

Sem tornarem a passar

Pra maldizer-me...

 

Ainda se a menina reclinada à minha beira,

Que tanto e tanto me seduz ainda,

Viesse banhar-se

E depois se afogasse em mim, violada e linda...

 

Ainda se eu,

Profundo e vasto e longo,

Pudesse ter no mapa mancha azul e portos

E ser útil à navegação...

 

Finando-me abriria a justa e verdadeira causa

À minha sede e à minha direcção.

 

Políbio Gomes dos Santos

publicado por RAA às 19:00 | comentar | favorito
14
Dez 12

A JOAQUIM BENITE NO SEU OLIMPO (in memoriam)

Chora o Olimpo

o valoroso herói:

caiu junto aos portões

da cidade de Atenas.

 

Caronte não o deseja:

não aceita as moedas,

a sua luz mais forte

ofuscaria a treva

da memória...

 

Diónisos vem buscá-lo

com as suas bacantes:

ele sobe triunfante

com o Rei do cortejo...

 

Vénus abre-lhe o colo

de abraços generosos

E Hermes cede-lhe as asas

para poder voar...

 

Zeus entrega a coroa de fogo

reservada aos heróis:

o Olimpo é o Reino

de memória perpétua

onde não há Carontes

receosos...

 

Yvette K. Centeno

 

 

publicado por RAA às 00:15 | comentar | favorito